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COLUNISTA
Carlos Rizzo
07/03/2005 - 11h03
Aquela sem vergonha
 
 
 
Luiz Roberto de Moura 
  A Impatiens Sultani, maria-sem-vergonha, é nativa do Zanzibar.

Todo mundo fala mal dela, ainda mais aqueles que não gostam de muita sujeira e querem ver tudo limpinho o tempo todo. Descobri, sem querer, como tudo o que envolve o que é sem-vergonha, que ela não e brasileira.

O Brasil pode acumular um monte de títulos desagradáveis, mas este não. Como já disse, sem querer descobri que ela é zanzibaleza.

Estou falando dela mesmo, daquela que dá em tudo quanto é lugar e em qualquer época do ano. A Impatiens sultani é uma erva suculenta, balsaminácea com folhas elíptico-lanceoladas, moles, glabras, acuminadas. Como não podia deixar de ser suas flores são rubras, alvas ou violáceas, vistosas, com quatro pétalas cruzadas, cálice com uma sépala longamente calcarada e cinco estames reunidos no centro da flor. Com uma curiosidade, que é brincadeira de crianças. Quando apertamos, a sua cápsula herbácea se abre explodindo escandalosamente espalhando para longe suas sementes mínimas.

Estou falando da maria-sem-vergonha. De tanto e tão facilmente vê-las por aí e pelo nome tão brasileiramente elucidativo que sempre imaginei que ela fosse tipicamente brasileira. Qual que nada. Ela é mais sem-vergonha ainda. A Impatiens Sultani, maria-sem-vergonha, é nativa do Zanzibar. Verbete que nem no Aurélio tem e que fui encontrar no meu velho Larousse elementaire: Zanzibar- île de l’océan Indien, pres de la cotê de l’Afrique, sous tutelle britanique. Touche!

Como a sem-vergonha da zanzibaleza veio parar no Brasil é mistério que nem Poirrot junto com Maigret vão conseguir resolver. Mas temos que reconhecer ela se deu muito bem no Brasil. Se ela dá em outros lugares do mundo é difícil de saber, mas aqui ela dá muito e dá em tudo quanto é lugar.

Não sei se é pelo sem-vergonha ou pela mania de dar, não consigo dissociar e esta história me lembrou os recentes aumentos que os parlamentares estão dando para si mesmos ou para si próprios, com a mesma tautologia nas justificativas.

Pior que essa mania de dar começa em Brasília e se espalha pelo Brasil inteiro e logo as Câmaras de Vereadores começam a dar também. Em São José dos Campos eles quiseram dar, mas a Justiça não deixou, ainda. Em Caraguá os vereadores ficaram com vergonha de dar e deram primeiro para o prefeito, para o vice e para todos os secretários. Só espero que em Ubatuba eles não comecem a dar também.

Nessa coisa de dar e de sem-vergonha, continuo admirando as marias-sem-vergonha, porque dar com o dinheiro dos outros pode não doer no bolso deles, mas no nosso...


Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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