Para conter possíveis manifestações consideradas fora de controle pela Guarda Municipal nas entradas do Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã, o Exército simulou ontem (29) uma tática de dispersão com o uso de cães. A força ficará responsável por intervir no acesso da ala leste do estádio, enquanto a Polícia Militar garante o acesso oeste. Cerca de 150 soldados do 1º Batalhão de Guardas, que fica em São Cristóvão, foram convocados para simulação. Eles fazem parte da equipe de 800 homens que estarão disponíveis nos dias de jogo no estádio, começando pelo amistoso entre Brasil e Inglaterra neste domingo (2). Os militares ficam no quartel até serem requisitados pela Secretaria Estadual de Segurança Pública. Equipados com escudos, cassetetes, roupas com proteção de borracha, armas letais e não letais, como granada de luz e som e balas de borracha, os soldados mostraram uma tática em que liberam cachorros da raça pastor alemão contra os militares que fizeram o papel de manifestantes. Conforme foi demonstrado, se fracassar a tentativa da guarda de conter torcedores, os militares fazem uma formação em linha de onde soltam os cães. Responsável pela operação, o general José Alberto Abreu, explicou que os animais obrigam que o grupo de manifestantes retroceda. “O cachorro faz parte da tropa e o manifestante, qualquer que seja, teme o cachorro”, declarou. “A finalidade não é, especificamente, agredir, mas o cumprimento da missão [de desobstrução do acesso]”. O emprego da força policial na repressão a manifestações tem sido questionada no Rio depois das imagens da desocupação do Museu do Índio, em março, e do protesto feito durante o jogo teste no Maracanã, em abril. À época da desocupação, a Defensoria Pública da União (DPU), que estava no local, cogitou entrar na Justiça contra a Polícia Militar. Para o movimento O Maraca É Nosso e o Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas, que têm articulado as principais manifestações na cidade, há abuso da força. “Tem sido usadas estratégias violentas contra manifestações pacíficas. Temos farto material audiovisual sobre isso”, disse o pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Gustavo Mehl, dos dois grupos. “Essas estratégias militares de repressão nos preocupam muito. A gente se pergunta, como vai ser, na Copa do Mundo, uma ação desproporcional contra o direito de protestar pacificamente?”, questionou o representante do movimento O Maraca É Nosso e do Comitê Popular, que criticam o caráter comercial da licitação do estádio e a demolição de centros esportivos no entorno. Além de controlar os acessos, o Exército pode substituir, se acionado, seguranças privados dentro do estádio. Na parte interna, podem atuar 150 militares disfarçados.
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