Buenos Aires – O dólar no mercado paralelo argentino voltou a disparar ontem (24) diante da informação de que os bancos iriam restringir a retirada de divisas com cartão de crédito no exterior. O Banco Central informou que não há uma resolução oficial neste sentido, mas confirmou que foram feitas reuniões com representantes das instituições financeiras para discutir a melhor forma de controlar a fuga de capitais. A pedido do governo, a empresa Visa (que representa mais da metade do mercado de cartões de crédito na Argentina) reduziu hoje os limites de saques no exterior a US$ 50 mensais em países limítrofes e US$ 800 por mês no resto do mundo. “Os novos limites vão afetar o turismo nos países vizinhos. O argentino que for a uma praia brasileira nas férias, só terá direito a retirar R$ 100 por mês para gastar em lugares que não aceitam cartão, como a barraca que aluga sombrinha e vende cerveja”, disse em entrevista à Agência Brasil o economista Fausto Spotorno. “Os argentinos vão acabar comprando dólar no mercado negro, aumentando a brecha em relação ao dólar oficial”. Desde outubro de 2011, quando foi reeleita presidenta, Cristina Kirchner está impondo medidas para restringir as operações de câmbio. Quem quiser comprar moeda estrangeira (incluindo reais) tem que provar que vai viajar e obter autorização da Administração Federal de Rendas Públicas (Afip) – a Receita Federal argentina. Os cartões de débito argentinos já não podem ser usados para fazer saques no exterior e as compras com cartões de crédito são taxadas em 20%. Ainda assim, muitos argentinos achavam que valia a pena viajar até a Colônia e para o Uruguai para sacar dólares com o cartão de crédito e trazê-los de volta à Argentina. A moeda norte-americana chegou a valer dez pesos no mercado paralelo – duas vezes mais que o dólar oficial. O vice-ministro da Economia, Axel Kicillof, admitiu que os argentinos têm US$ 40 bilhões guardados em casa ou em cofres nos bancos – o equivalente às reservas do Banco Central. Na Argentina, poupar em dólar é um hábito que já dura 50 anos. “É a forma como os argentinos se protegem da inflação. Desde os anos 1970, tivemos várias desvalorizações, hiperinflação e confisco de depósitos bancários”, explicou à Agência Brasil o ex-ministro da Economia, Roberto Lavagna. “Ao primeiro sinal de desconfiança, os argentinos compram dólares, que guardam fora do sistema financeiro”. Desta vez, o motivo de desconfiança foi a intervenção do governo, em 2007, no Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec) – o órgão estatal que mede o aumento de custo de vida. Com a nova medição, a inflação oficial será 11% este ano – menos da metade dos 23% estimados por economistas privados e sindicalistas. O governo vem endurecendo os controles de câmbio para frear a saída de dólares: apesar das restrições, no primeiro trimestre deste ano os argentinos sacaram US$ 120 milhões no exterior (quatro vezes mais que em todo 2012). Com a notícia da redução dos limites de saque com cartão de crédito, o dólar paralelo – que tinha baixado de dez pesos para 8,43 pesos – voltou a subir hoje para 8,95 pesos.
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