Mais uma vez, a temporada de verão no Brasil está sendo marcada por alertas sobre o elevado número de praias impróprias para banho. Somam-se a eles, problemas de carência de infraestrutura, de abastecimento de água e de serviços adequados para atender ao imenso contingente de turistas nas cidades litorâneas deste nosso país tropical. É como se o movimento de férias não fosse recorrente há décadas e constituísse uma “surpresa” anual para os municípios praianos. Um dos maiores problemas socioambientais do Brasil é a falta de coleta e tratamento de esgotos. Segundo o Instituto Trata Brasil, nossa população produz, em média, 8,4 bilhões de litros de esgoto por dia. Deste total, somente 36% são tratados. O resto é lançado a céu aberto no meio ambiente, contaminando lençóis freáticos, rios, mananciais e praias, sem contar que são fontes de graves doenças. A questão evidencia a necessidade do planejamento eficaz para o desenvolvimento sustentável das cidades brasileiras, baseado em suas vocações econômicas e peculiaridades geográficas, climáticas e demográficas. Para se ter ideia da dimensão do desafio a ser enfrentado no caso das cidades localizadas junto ao mar, a população residente do Litoral Norte paulista, somando Bertioga, Caraguatatuba, Ilhabela, São Sebastião e Ubatuba, é de aproximadamente 330 mil habitantes. No entanto, nas férias de verão, incluindo os turistas e veranistas, o número pode alcançar cerca de 1,5 milhão de pessoas. Este contingente vem crescendo ano a ano. Portanto, o planejamento relativo aos municípios também não pode desconsiderar esse pico demográfico anual. O maior desafio, em todos os municípios brasileiros, é crescer sustentavelmente. Isso significa garantir desenvolvimento econômico, com emprego e renda para todos e arrecadação fiscal, sem degradar o meio ambiente. A expansão ordenada é muito importante e somente pode ocorrer mediante o devido planejamento urbano. Nesse sentido, é preciso considerar as expectativas de aumento da população, projetos empresariais previstos, fluxos turísticos, atividades econômicas e todas as variáveis que influenciam a sazonalidade do fator demográfico. Portanto, para se garantir um mínimo de sustentabilidade é fundamental o planejamento a longo prazo, relativo à circulação e transporte, educação, atendimento médico-hospitalar, saneamento básico, moradia, segurança, criação de empregos e tudo o que diga respeito aos aspectos urbano-ambientais. Num Brasil com mais de 190 milhões de habitantes, é fundamental buscar soluções capazes de prover o desenvolvimento sustentável das cidades. Não podemos mais insistir no improviso anual, que não soluciona a vida dos habitantes de nossas cidades e nem potencializa seu desenvolvimento. O caminho certo para a sustentabilidade e a curtição de férias de milhares de pessoas é o planejamento a longo prazo. Nota do Editor: Luiz Augusto Pereira de Almeida é diretor da Fiabci/Brasil e diretor de Marketing da Sobloco Construtora S.A.
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