A notícia correu feito rastilho de pólvora. Nas redações dos jornais havia somente uma questão: que doença misteriosa, com tal poder mortal, estranhamente fatal numa profissão aparentemente tão segura surge assim do nada? Não havia resposta satisfatória aos editores que, nervosos, escalavam as equipes para viajarem em busca de resposta. Os principais jornais mandaram seus principais repórteres para aquela, até então desconhecida, cidade de Minas Gerais. Todos com um só objetivo: descobrir qual doença havia provocado a morte de 50% dos barbeiros daquela cidade. A resposta não tardou a chegar nas redações e para surpresa de todos não haveria com que se preocupar. Na pequena cidade de Minas Gerais havia somente dois barbeiros e um deles (50%) havia morrido de causas desconhecidas. Meu professor de estatística gostava de contar esta história para ilustrar os perigos de se acreditar nas informações sem antes analisar sua veracidade. Ao ouvir o boletim da Cetesb sobre a qualidade das praias veiculado pela TV Vanguarda, no sábado de carnaval, lembrei dela. O locutor direto de uma praia de Caraguatatuba leu o seguinte boletim: - "Em Caraguatatuba a Cetesb classificou as praias, Porto Novo, do Centro, Indaiá e Pan Brasil como impróprias para banho e em Ubatuba as praias do Itaguá, Perequê-Mirim e o Rio da Itamambuca". - Imagine se a notícia fosse dada percentualmente. Sabemos que Caraguá tem 12 ou 13 praias, 04 poluídas significam algo em torno de 30%. No caso de Ubatuba com cerca de 80 praias as poluídas representam menos do que 5%. O locutor, direto da mesma praia de Caraguá, leria a seguinte notícia: - "30% das praias de Caraguá foram consideradas impróprias para banho enquanto em Ubatuba menos de 5% das praias estão poluídas". - Os homicídios durante o carnaval deste ano no litoral Norte aumentaram 100%. Ano passado não teve nenhum, este ano teve um, em Boissucanga. Do mesmo jeito que comparar a temporada deste ano com a temporada de verão do ano passado. Ano passado foi péssimo este ano foi ruim, mesmo assim Ilhabela anuncia um aumento de 10% na ocupação dos leitos das pousadas. Numa temporada prevista para menos de quarenta dias dos quais vinte dias foram de chuva plena e constante fica difícil imaginar que qualquer tipo de comércio ligado à temporada tenha se dado bem. Excluindo é claro, os vendedores de capas e guarda-chuvas. Esses aumentaram as suas vendas em 500%.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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