Apesar do bem-sucedido processo de inclusão socioeconômica verificado nos últimos anos, o Brasil, segundo dados do próprio governo, ainda tem cerca de 16 milhões de pessoas na linha da miséria. Parte importante da solução para o problema pode estar no agronegócio, com a extensão aos pequenos produtores de todos os avanços que a tecnologia propiciou ao setor. Em reunião do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp/Ciesp, o pesquisador Eliseu Alves, da Embrapa, apresentou dados que referendam esse potencial. O desenvolvimento tecnológico no campo transformou o País em diversificado e respeitado exportador, teve impacto positivo na queda do preço dos alimentos, contribuindo para o combate à pobreza, e gerou poupança para financiar o desenvolvimento. De 1975 a 2010, as áreas plantadas com milho, soja, arroz, feijão, trigo e algodão cresceram 183%. A produtividade aumentou 326%, levando a produção a uma expansão acumulada de 597%. Quanto às áreas de pastagens, diminuíram 4% de 1975 a 2006, mas a produtividade da pecuária de corte evoluiu 385%. Fica muito claro, portanto, que a tecnologia explica o grande salto do agronegócio. Tal avanço reflete-se no barateamento dos alimentos e aí tem destaque parte importante da contribuição social do setor: de 1977 a janeiro de 2007, os preços reais da cesta básica caíram 62,79%. Agora, o próximo passo é ampliar o espectro dessa conquista, gerando renda para os pequenos proprietários rurais, especialmente para aqueles que têm dificuldade de acesso ou no uso das novas tecnologias. Depois de crescer de 1940 a 1970, quando chegou a 41,6 milhões de habitantes, a população campesina no Brasil caiu para 29,8 milhões em 2010, representando, mesmo com a queda, um contingente muito importante de pessoas. Por isso, é preciso modernizar a agricultura familiar, e somente a tecnologia pode melhorar a distribuição da renda e gerar mais bem-estar no meio rural. Além disso, o estudo do pesquisador mostra que os produtores de 56% dos 4,4 milhões de estabelecimentos rurais brasileiros não sabem administrar o patrimônio, aplicar e monitorar a tecnologia. O Brasil precisa mudar esse cenário, com o governo investindo nas necessidades específicas das pequenas propriedades, oferecendo aos trabalhadores do campo a devida orientação técnica, disponibilizando nossa avançada tecnologia, garantindo crédito e um seguro agrícola mais completo e competitivo. No âmbito desse contexto, a Embrapa desempenha um papel primordial, especialmente na geração de pesquisa e inovação tecnológica para aqueles produtos que não são atrativos o suficiente para mobilizar os fortes investimentos das empresas privadas de tecnologia ou de máquinas e implementos agrícolas, por exemplo. A partir daí, entra a responsabilidade dos estados, por meio dos seus institutos de assistência técnica e extensão rural, que deverão assegurar que a tecnologia gerada pela pesquisa chegue ao pequeno produtor rural. Intensificando essas ações, o País aceleraria o processo já observado de redução da miséria e geração de bem-estar social não só no campo, mas para toda a nossa população brasileira. Nota do Editor: João Guilherme Sabino Ometto, engenheiro (EESC/USP), é presidente do Conselho de Administração do Grupo São Martinho, vice-presidente da Fiesp e coordenador do Comitê de Mudanças Climáticas da entidade.
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