Houve um tempo em que crianças morriam vítimas de doenças graves, ou nem tanto; talvez, por correrem atrás de uma bola pelas ruas e serem atropeladas. Ou ainda, por caírem de árvores tentando apanhar frutas. O fato é que, nos últimos 40 anos, conseguimos erradicar muitas das doenças que matavam nossas crianças nos primeiros anos de vida. Por outro lado, brincar nas ruas tornou-se muito arriscado e subir em árvores, um privilégio para poucos. Nossas crianças continuam morrendo. Só que agora como adultos, pois morrem vítimas de armas de fogo e de muita violência. Enquanto nos preparamos para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, ganhamos o vergonhoso título de quarto colocado no ranking mundial da violência contra crianças e adolescentes. Só estamos atrás de El Salvador, Venezuela e Trinidad e Tobago, segundo a pesquisa “Mapa da Violência 2012: Crianças e Adolescentes”. Seis anos atrás, quando decidimos criar uma entidade especializada em cuidar de crianças vítimas de violência doméstica, não imaginávamos qual era o tamanho do desafio. O primeiro deles é conseguir financiamento, pois infelizmente as empresas não simpatizam com a ideia de ligarem a sua imagem à violência, sobretudo contra crianças. Fomos então atrás do financiamento público e, após bater em muitas portas, conseguimos recursos para levar adiante nossa ideia. Sabemos que somos uma “gota” em um “oceano” de necessidades, pois a questão da violência contra a criança e o adolescente neste país deveria ser tratada como prioridade. E hoje, temos dados consistentes para perceber que estamos vivendo uma grande catástrofe social. A violência contra a criança e o adolescente provoca marcas profundas quando não mata. Prevenir e tratar as famílias é imprescindível e urgente. A criança marcada pela violência, quando não tratada de forma adequada, dificilmente será um adulto produtivo. O adulto que foi vítima de violência na infância tem um grande potencial para reproduzir a violência a que foi submetido em suas relações. As nossas autoridades precisam e devem atentar para este problema. Caso contrário, continuaremos bem colocados no indesejável e vergonhoso ranking da violência. Nota do Editor: Wagner Odri é presidente do Instituto Herdeiros do Futuro (IHF).
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