Já tive amores que sequer o houveram, ou que se desfizeram em amargo pranto. Conheço essa tristeza, portanto. Também sei que ela nunca vem sozinha: sempre traz uma dorzinha, que nos maltrata com zelo, minha nossa! Que acaba numa abissal fossa, mas, começa pelo cotovelo. No entanto, muito pior do que a dor de um amor desfeito é o vazio da falta de amor! Assim, tenham certeza, é melhor remar contra a correnteza do que viver na apatia de um mar em calmaria. Eu vivi muito tempo entre essa dor e vazio, sem saber que o amor não é uma imposição, nem algo que a gente às vezes sente, depois esquece. O amor não vem por encomenda, dinheiro, mandinga ou prece. O amor, simplesmente, acontece! E quando acontece tem que ser alimentado com toda emoção, com cada vital pulsar do coração! A gente deve agarrá-lo, desfrutá-lo e transformá-lo até aprender que o amor nunca termina, e mesmo quando assim parece, quando menos se espera, de novo germina. Por isso, entristeço demais ao saber de amantes que não se amam mais; de filhos que sofrem com desamor de seus pais; do que, antes, era perfeito e hoje explode em falhas; da paz que se esvai em dolorosas, por vezes dolosas, batalhas. Querem a paz? Então, preparem e pratiquem o amor! Pois sua falta é sinistra, é pano de fundo de todos os males que afligem o mundo! E para não cair na armadilha do costume, sempre é bom um pouco de ciúme. Mas sem exagero, para não entornar o caldo nem estragar o tempero. Guerra? Só a de corpos ardentes, sem o mínimo pudor, trocando carícias, fazendo amor! Amor que alucina, envolve; que tudo tira, mas, muito mais, devolve. Porque o amor é uma estrada de duas mãos que, em verdade, são quatro: ora contidas, ora atrevidas. Porque em todo ensejo ele sente desejo, e sabe que mesmo em meio ao maior cansaço sempre há espaço para um beijo e um abraço. Porque o amor também precisa de gentileza, de assentos puxados ou cedidos; de mãos que se toquem, sobre mesa; de trocas, juras e pedidos; de chegar sempre quinze minutos antes, para o encontro a dois, mesmo sabendo que a amada só ficará pronta meia hora depois. O amor de verdade é assim: nunca se dispersa! Vive de paixão e, também, de conversa, pois para sua grandeza exige franqueza; despreza intrigas; só tem curtas, curtíssimas, brigas; não faz drama ou cenas. Se basta, apenas. Assim, sacia suas fomes e sedes entre quatro paredes. Então, nunca, jamais, enganem o amor! Porque a mentira é mortal para o amor, e quando ele morre a gente morre um pouco com ele. O amor não deve temer, da inveja, os mísseis; tampouco deve temer tempos difíceis, que vêm e vão. Então, o importante é amar! O resto é vão! Vão amar, portanto! E amar cada vez mais, “porque o amor é a coisa mais triste, quando se desfaz”, já diziam Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Nota do Editor: Adilson Luiz Gonçalves, membro da Academia Santista de Letras, é mestre em educação, escritor, engenheiro, professor universitário e compositor. E-mail: prof_adilson_luiz@yahoo.com.br.
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