E eu podia ter acordado, tranquilo, às nove, nove e meia, no máximo, Se tivesse dormido quando deitei e fechei os olhos da primeira vez, Mas o homem é um bicho complexo... E, se orgulhando da fraqueza de poder pensar, Acaba perdendo valiosas horas de sonho. Passando noites em claro, tentando dominar-se ou entender-se, Numa retórica íntima sem método nem nexo, Inicia a imitar, na cama, o círculo sem fim de seus pensamentos; Depois, percebendo a inutilidade do processo, corrompe-se a tentar fugir de si mesmo, Numa boa hipnose que sempre falha e se chama, vulgarmente falando: aceitação. Termina, o homem, a levantar-se pra descontar contra uma parede qualquer Toda sua ira, sua culpa, sua tristeza, seu medo, sua frustração e descontentamentos, Na sutil esperança de que o ruído oco de seus murros possa evocar a lembrança Do grito angustiado que, silenciado por força do horário, acaba virando arte ou leitura... Às vezes, até a falsa companhia de uma TV ligada alivia a impressão de solidão... Por fim, exausto de viver sentimentos antagônicos, dorme o homem sem sonhar. Tudo isso a troco ilusório de confabular futuros escapismos, calcular defesas e rotas E formular ensaios de alguns conformismos pra dizer ao amor, ao trabalho, aos amigos. E eu acordo ainda tenso depois do meio-dia... Nota do Editor: Edgar Izarelli de Oliveira é poeta e escritor. Trabalha como ator e diretor de marketing para a Compania Nóis se Nóis não é Nóis. Mantém o blog Palavras d’Alma (edizarelli.blogspot.com).
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