Ser mãe é uma experiência inexplicável, algo que domina o corpo feminino antes da fecundação. Assim, quando essa ocorre, sente-se uma mudança radical. Sintomas como enjôos e azias constantes levam as futuras mamães a perder o controle sobre seus próprios organismos. Não sabem explicar o quê, mas algo diferente acontece. Tudo ocorre, menstruação atrasada, corpo estranho e logo a descoberta da gravidez. Felicidade confunde-se com choque e dúvidas, a única certeza é que naquele exato momento nasce um amor infinito, capaz de fazer a mulher a dar vida por alguém que nem conhece ainda. Tudo é mágico, a mulher grávida pode se sentir a mais linda do mundo e busca aproveitar cada dia, cada momento e cada mudança que acontece no seu próprio corpo. Acredita-se que o amor de mãe, assim como os sintomas, independe da mulher, é único. Porém, o que difere é a realidade de vida na qual cada mulher está inserida. Assim, fatores culturais, étnicos, econômicos e sociais podem influenciar a maternidade. Lembrando também que cada caso é um caso; tudo depende de como a gestação acontece, do apoio familiar e a construção do relacionamento “pai e mãe”. Não se pode afirmar que “nasce uma mãe ao nascer um filho”, pois esse é um processo que se dá ao longo da vida. Meninas-mulheres e futuras mães vivenciam experiências que impactam na maneira como serão. Ao pensarmos nas brincadeiras de bonecas, nas fantasias de infância e na relação como filha, percebemos que estes são fatores de muita importância para a futura concepção de uma mãe e de seu filho. Logo, mulheres que não tiveram boas relações com suas mães e responsáveis, muitas vezes ausentes, violentos ou com condições econômicas instáveis, podem sentir dificuldades para o exercício da maternidade. Sentem-se desprovidas de instrumentos emocionais, relacionais e até mesmo físicos, e estão longe do modelo ideal. Para auxiliar tais mulheres, há projetos como os “grupos de maternagem”, que consistem na reunião de várias mulheres com dificuldades para exercer seus papeis. No Instituto Herdeiros do Futuro, por exemplo, o grupo é conduzido por dois profissionais, sendo um Psicólogo e um Assistente Social. Cada profissional oferece seu olhar técnico, e o grupo é um dispositivo de trabalho importante para a observação da dinâmica de funcionamento dos integrantes entre si, em que os especialistas podem intervir. Em projetos que envolvem o atendimento a crianças, principalmente como vítimas de violência ou negligência, é importante oferecer um grupo para reflexão sobre a relação de maternagem às famílias atendidas. Em conjunto, as mães têm a possibilidade de confrontar seu mundo interno com as diversas integrantes e construir novas “metodologias” para a relação com os filhos. Vale ressaltar, ainda, que algumas participantes são avós que exercem a função de mães, e sentem-se enfraquecidas e sem recursos internos e de conhecimento para suprir as exigências da relação de maternagem. Embora todas possuam esse dom, algumas mulheres precisam de ajuda para vivenciar a plenitude da grande experiência, que é ser mãe, e entender a concepção de um filho. Contudo, cabe ao Estado e à sociedade dar apoio a essas mulheres, para que problemas gerados por violência doméstica (psicológica, física, sexual e negligência) possam ser evitados ou prevenidos. Nota do Editor: Marianne Ferreira Riera (psicóloga) e Adriana Souza Aguiar (assistente social) trabalham no Instituto Herdeiros do Futuro.
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