Saí do caminho torto, comum e passional das emoções E trilhei apostas retas e razoavelmente seguras, Tendo comigo apenas a mísera coragem De um mapa de pensamentos construídos a improviso E uma pequena gaiola de julgamentos feitos em cima da hora, Pra tentar manter sob minha custódia e companhia A frágil linha de vida deste pássaro canoro. Mas todas as estradas cederam à pressão do senso-comum E dos fatos, contra-sensos e contra-cenas da realidade. O piso do penhasco presente já está se esfarelando Pelo peso das expectativas frustradas que transporto no peito. Grito ao precipício profundo que se abre logo em frente, a um passo de mim: “Como soltar um sonho de amor para que ele se disperse no ar?” E uma voz serena e sábia me responde ecoando de algum lugar futuro: “Como se solta um pássaro para que ele volte a voar?” E com a expectativa despedaçada pela arte do instante, Eu abro os braços e a porta da gaiola... O pássaro até alça um vôo tímido e desajeitado, Mas parece estranhar com frieza a hostilidade do horizonte, E, sem que eu possa entender, ele muda a trajetória E vem cantar maviosamente triste ao meu ouvido: “Até a liberdade pode ferir um coração cativo, Volta comigo ao caminho belo e antigo E vai consertando esse coração partido, Pois, é seu todo o meu amor nativo!” E o vento sussurrante me restitui toda a leveza de um corajoso “sim!” Nota do Editor: Edgar Izarelli de Oliveira é poeta e escritor. Trabalha como ator e diretor de marketing para a Compania Nóis se Nóis não é Nóis. Mantém o blog Palavras d’Alma (edizarelli.blogspot.com).
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