Talvez esteja na hora de mudar de cidade... Misteriosamente, já me sinto tão distante daqui, Tão sozinho, tão deslocado, desolado, sem sentido, vazio Feito tronco já oco de seringueira ainda algemado à terra... Talvez só minha arte é que tenha que mudar... Estranhamente, até a poesia tem parecido querer me abandonar E essas imagens, se vêm, vêm distorcidas demais para o entendimento das palavras; Vêm procurando a sombra do nanquim e a confusão fugaz de uma aquarela já sem cor... Talvez eu deva destrocar conceitos... Inevitavelmente, transformei amizade em paixão, sexo em amor, atenção em atração... Transformei até a minha parte verídica da história em prosa romanesca incompleta E em caminho certo toda a sensualidade dos teus carinhos, mas, não sei porque, A vida insiste em parecer tão difícil e desagradável se tento reverter os processos... E me parece inconcebível e até ridículo querer rebaixar toda força ao estágio de dor! Vai ver está na hora de eu mudar de cidade, de país, de planeta, de mundo, Mas, não me canso de considerar hipóteses menos prováveis ou até impassíveis Como mudar o mundo, se não inteiro, ao menos o teu mundo interno, Ou, então, o mundo mudar de mim, expulsá-lo qual sangue em vômito de psicodrama... Mas, talvez, a alternativa filosoficamente mais plausível seja, também, a mais medonha: O mundo mudar em mim... Nota do Editor: Edgar Izarelli de Oliveira é poeta e escritor. Trabalha como ator e diretor de marketing para a Compania Nóis se Nóis não é Nóis. Mantém o blog Palavras d’Alma (edizarelli.blogspot.com).
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