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Cidades
17/01/2012 - 18h15
Sempre o lixo
Hubert Gebara
 

“É vedado lançar papéis, pontas de cigarro, fragmentos de lixo, líquidos e quaisquer outros objetos pelas janelas, terraços e outras aberturas para a via pública ou áreas comuns do edifício.” Essa regra de ouro consta da convenção de muitos condomínios e, quando desrespeitada, pode gerar multa e outras penalidades ao condômino infrator e ao próprio condomínio.

Difícil é identificar o infrator. Esse condômino antissocial transgride a regra na calada da noite ou “quando ninguém está vendo”. Já houve quem derramasse lata de tinta pela janela nas áreas comuns do condomínio ou mesmo na via pública vizinha ao prédio.

O lixo mal descartado é um hábito profundamente enraizado em nosso modo de vida ao sul do Equador. No caso do Brasil, remonta ao Descobrimento e ao Brasil Colônia. Sempre tivemos vocação para achar que o mar e os rios são nossas lixeiras. Na falta dessas facilidades, transformamos nossos aterros em agonizantes lixões a céu aberto.

Nos condomínios, não é apenas uma prática de “marinheiros de primeira viagem”. Muitos veteranos da vida condominial também se recusam a aprender essa regra vital de cidadania. Entre nós, é demonstração de esperteza livrarmo-nos do incômodo resíduo de forma velada, com nosso melhor ar de santidade. Estamos fazendo isso de forma coletiva com a natureza, não apenas intramuros, mas em toda parte, extramuros. Estamos esquecendo “que o lixo volta”.

Como se não bastasse, o condomínio pode ser processado se algo que foi jogado pela janela ou pela sacada atingir, por exemplo, um carro ou um outro morador, podendo causar prejuízo e ferimentos a terceiros. É um comportamento de alto risco. Responsável civil e criminalmente por tudo o que acontece no condomínio, o síndico precisa reforçar esse tipo de advertência, não apenas na convenção ou durante as assembleias, mas onde for possível e visível nas áreas comuns do empreendimento.

Na convivência em comum, o aprendizado não termina nunca. Condomínio é escola de cidadania e, por definição, deve formar bons cidadãos, dentro e fora dele. “Bons americanos”, como se diz nos Estados Unidos. A palavra conscientização cabe muito bem aqui: ela é a etapa posterior à perigosa inocência de alguns. A palavra inocência também cabe muito bem aqui. Se o condômino infrator “não sabe do que se trata”, não há cura possível. Mas é inconcebível que ainda exista esse tipo de condômino perigoso-inocente e, ao mesmo tempo, tão esperto.


Nota do Editor: Hubert Gebara é vice-presidente de Administração Imobiliária e Condomínios do Secovi-SP (Sindicato da Habitação) e diretor do Grupo Hubert.

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