Eu gosto deste beco, Tem meus olhos, meu rosto, meu cheiro e tudo o que percebo de minha intimidade, Este beco é meu mundo. Um cubículo escuro espremido entre prédios. Só tenho duas saídas: a pequena abertura por onde entrei me mostra, como janela, O abandono usando drogas e mulheres mentindo pra si mesmas, por necessidade, Pra realizar os verdadeiros desejos dos homens estranhos... A cidade levou das minhas mãos o meu coração, O coração de vidro que eu tinha acabado de resgatar da bagunça de um quarto de lixo, Dois quartos de solidão, um terço de esperança, um ciclo de tristezas cruas, E quatro quartos inteiros de medos trancados que tive que encarar, Sem querer e sem pensar... Se eu tinha meia chance com um coração transparente e lúcido, Agora, sem nada nas mãos, sou eu mesma um nada, um vazio, E ocupo lugar de alguma lata de refrigerante que, mesmo vazia como eu, Ainda pode ser reciclada. Talvez esteja na hora de abrir as asas de corvo e subir aos céus pela outra saída. Nota do Editor: Edgar Izarelli de Oliveira é poeta e escritor. Trabalha como ator e diretor de marketing para a Compania Nóis se Nóis não é Nóis. Mantém o blog Palavras d’Alma (edizarelli.blogspot.com).
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