O aumento das vendas de imóveis de um dormitório decorre, em grande parte, do “bônus demográfico” brasileiro, situação em que o número de pessoas ativas entre 20 e 50 anos supera a soma de crianças e aposentados. Esta mudança aliada à mobilização econômica de 40 milhões de cidadãos registrada nos últimos anos e às melhorias das condições de crédito permitiu a geração de uma demanda imobiliária até então inédita. Esses consumidores “antenados” e contestadores analisam os investimentos, comparam preços e usam as redes sociais para trocar informações. Priorizam a individualidade e têm visão urbanística particular. Solteiros ou casais sem filhos devotam-se à carreira e à formação profissional. O interesse imobiliário desses jovens vai de estúdios compactos e sem divisórias, com 35 metros quadrados e sem vaga de garagem, perpassam os “sala e quarto” e se alçam aos sofisticados lofts de 100 metros quadrados e duas vagas. Uns exigem preços acessíveis e dispensam equipamentos comunitários, fator preponderante para a redução da taxa condominial. Outros procuram condomínios adjacentes ao metrô e a corredores de ônibus, e valorizam funcionalidades como lavanderia coletiva. Arquitetura moderna, espaços abertos, raia de natação, espaço gourmet são desejos refinados desse público, que considera essencial a proximidade do imóvel com o local de trabalho, universidades, cinemas, bares, restaurantes e baladas. Preço não é o fator decisivo para a compra do imóvel. Nas regiões periféricas da cidade de São Paulo há procura por unidades menores e disponíveis por aproximadamente R$ 100 mil. Em regiões mais centrais, há aquelas disponíveis por R$ 250 mil e dependendo da localização e dos atributos, encontram-se as que ultrapassam R$ 1 milhão. Sucesso nas décadas de 1960 e 1970, a locação de quitinetes complementava a aposentadoria de seus proprietários. Porém, o protecionismo danoso da lei do inquilinato vigente à época permitiu que inquilinos de má-fé deixassem de pagar o aluguel, danificando imóveis e se recusando a sair. Com isso, essas unidades perderam reputação. Agora, imóveis de um dormitório recuperam importância e incentivam a volta da locação como investimento. As modernidades legais e a demanda permitem este progresso. Nota do Editor: João Crestana é presidente do Secovi-SP (Sindicato da Habitação) e da Comissão Nacional da Indústria Imobiliária da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CII/CBIC).
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