Durante toda a vida, havia um sentido oculto dentro de outro, Mas agora, que começo a decifrar o grande devaneio das ilusões, A verdade me é clara da cor da água do mar: Azul só à primeira vista, Cinza quando chove, Transparente dentro do vidro que guarda minha alma... Agora que me decifrei, já é tarde. Tarde demais! A tumba dos segredos já sepultou as areias que o vento do tempo soprou! Um dia... Um passado no passado absoluto: a vida... As chaves já estão guardadas junto às perguntas inquietas, Dentro de caixinhas trancadas jazem as maiores descobertas do mundo... Apertadas ao silêncio mortal das covas abertas há pouco, Ali estão, ali estão... As certezas de que todas as preces chegam ao céu... Algumas atrasadas, por que o correio dos anjos sorteia as urgências! Minhas preces chegaram ao céu, Mas minha alma morta nega o desejo de ainda viver algo diferente, Se Deus quiser ela ainda pode ser enterrada ao meu lado... Mas a tumba dos segredos já me engoliu, E agora que a desvelei de seu sono profundo, Sou eu mesmo um novo segredo a ser digerido pelos vermes do tempo... Ninguém nunca saberá das minhas últimas feições de espanto, Que me serviram tão bem, Quando descobri os secretos recantos da morte, A fé silenciosa daquelas almas que me acompanham ao limbo, Os casos resolvidos depois da partida dos interessados, O pouco caso dado aos corações sem sorte, A lápide com meu nome ao lado das flores brancas que marcam meu amor, E minha saudade de saber o que eu realmente quero e se quero dizer... Ao menos, dormirei mais tranquilo, debaixo das raízes da minha realidade... Ao menos, terei pra sempre uma lembrança de que vivi bem, Amei, fui amado, morri amargurado, e descanso fora do pote cartesiano... Não sou verdade nem mentira, e ninguém saberá o que sou... Só os lírios do campo que brotam sobre meu lugar no ventre da terra! A tumba dos segredos descansa em paz absoluta até a próxima morte... Quem quiser descobrir o que eu quis dizer nesses versos de corvo... Saiba que nada acharás na vida Mas verá dois mundos muito distintos quando morrer! O mundo do esquecimento, daqueles que se esquecem de tudo, E o mundo daqueles que ainda sabem o que desejam... A tumba dos segredos me leva ao esquecimento, Esquecido por todos, em sacrifício para um mundo capenga... Eu quebrei minhas ilusões atordoantes, vivi como podia viver! Eu fui jogado fora da nau e pisoteado por multidões famintas Mas tenho certeza do que quero! E se minha fé for moeda de troca pra alguém, Ainda há uma esperança a se despedaçar, Ainda há o descanso que traz o sonho eterno! Nota do Editor: Edgar Izarelli de Oliveira é poeta e escritor. Trabalha como ator e diretor de marketing para a Compania Nóis se Nóis não é Nóis. Mantém o blog Palavras d’Alma (edizarelli.blogspot.com).
|