Quando pequeno, ainda antes de entrar na escola, escutei alguém dizer que o saci, antes de ser saci, era um pássaro. Não sei porque, mas... de repente, após umas orientações do tio Maneco Armiro, estava eu com uma arapuca armada no aceiro da roça pensando em capturar o saci em forma de pássaro. Foi justamente esse mesmo tio o primeiro a se importar com isso. Demonstrando muito interesse, foi me explicando que o tal passarinho não era nem grande nem pequeno, tinha um bico roxo e laranja; era pulvo com pintas encarnadas. Ainda me indicou uma moita de erva baleeira, dizendo que ali ele já tinha visto uma ninhada na semana anterior. Empolguei-me; armei naquele lugar a arapuca. Na mesma tarde caiu uma juriti; no dia seguinte era a vez de um sabiá galinha. Só sei que, dos muitos pássaros capturados, nenhum passava perto da descrição do tio Maneco. Depois foi a vez do tio Tião, pícaro como ninguém, se interessar pela minha insistência. Após ter-lhe explicado tudo, me aconselhou: - Pode continuar armando a arapuca, Zezinho! O tio Maneco ensinou direito! Logo você prende o saci que sempre está debaixo da baleeira! (Eu só não percebi o sorriso maroto dele.) No dia seguinte, de longe, não vi nenhum passarinho na arapuca, mas estava desarmada, tinha alguma coisa dentro. Aproximei-me curioso. Sabe o que era? Um monte de bosta! E das fedidas! No fim da tarde, inocentemente, contei o ocorrido ao tio Tião. Depois de uma risada, eis o seu comentário: - Vai ver que embaixo da baleeira é o cagador do saci! (E saiu gargalhando pelo caminho afora.) Demorou ainda um tempo para que eu entendesse o que tinha acontecido. Afinal, não era o saci o mestre nas reinações?
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