Um alerta sobre a necessidade da formação de profissionais para trabalhar a gestão da sustentabilidade no setor
Sabe-se que a cadeia produtiva das construções somente é impulsionada pela vontade dos empresários e suas ações empreendedoras, contudo esta mesma cadeia produtiva somente continuará “muito bem ativa” se estas ações contribuírem para as bases da sustentabilidade, proporcionando o equilíbrio sócio – econômico – ambiental. Algo muito certo entre os empreendedores são as responsabilidades do capital e o seu retorno financeiro tendo como produto a construção, mas: • A fase das construções comuns, tem uma duração em média de 1 a 2 anos, e este setor consome de 45 a 75% dos recursos naturais e produz as maiores emissões de gases do efeito estufa, cerca de 60% do total que correspondente a 1,5 vezes as emissões da fase de uso e ocupação. • Na fase de uso e ocupação das construções, são notados os maiores custos e consumo de recursos como água, energia, percepção do desempenho e conforto do ambiente, além dos custos para as manutenções, representando cerca de 80% do total do custo da construção considerando a sua vida útil. Quanto às emissões de gases de efeito estufa, esta fase, corresponde a 40% das emissões totais. Hoje no mercado, é muito comum, utilizar as estratégias na fase de construção, através de ações simples como os destinos de resíduos e reciclagens de materiais, origem dos materiais, racionalizações etc., que impactam diretamente no bolso e no retorno mais que imediato do capital, isto é visível e sensível. Mas deve-se ter a sensibilização e aculturamento do empresariado e dos participantes da cadeia produtiva no investimento de obras e projetos com pegadas sustentáveis ou mesmo que busquem as certificações sustentáveis, uma vez que isto possibilita, caso a construção seja de sua operacionalização ou de uso corporativo, o retorno dos investimentos em projetos integrados, sistêmicos e com certificações, entre 3 a 4 anos, já o retorno financeiro em uso e operação da construção é superior a aplicações financeiras devido as reduções de consumos de água, energia e manutenções, ficando em torno de 2 a 3,8% ao mês. Por outro lado se a empresa construtora somente comercializa o seu produto no mercado, deve analisar seu papel na adoção de pegadas sustentáveis como diferencial de imagem e marketing. Mas, caso o par, imagem & marketing, não seja seu objetivo imediato, terá que analisar sua responsabilidade na oferta de um produto melhor e com menos impactos ao meio ambiente, qual sua colaboração para a redução dos custos de uso e ocupação, para que seus clientes e o meio ambiente não tenham que arcar com este ônus, além do fato dos recursos naturais utilizados nas suas construções serem finitos. Portanto esta ação de tornar as construções com maiores pegadas sustentáveis depende da decisão e participação dos empresários e empreendedores, pois, os clientes e compradores, em quase toda a sua totalidade, desconhecem ou são inconscientes destes impactos, são somente usuários, não são da área da construção e sabem tão somente que estão adquirindo um bem durável e entendem a construção simplesmente como o seu lar, o seu escritório, o seu edifício, a sua morada, e não possuem os comparativos de custos entre uma construção com concepções sustentáveis e as construções comuns. De modo lúdico, trata-se de brincar de esconde-esconde, quando se tem o conhecimento dos diferenciais de projetos bem resolvidos e seu usuário não enxerga os custos e consumos elevados que estarão diluídos durante todo o ciclo de vida da construção. Mas todo este encargo de tornar as construções melhores não recai somente nas empresas e empreendedores atuantes no mercado, pois este mercado é predatório, competitivo, no qual a engenharia de valor está muito mais para redução de custos e retornos financeiros, ficando muito distante a análise de se aplicar e investir em sustentabilidade e certificações (o dilema sustentável financeiro: se ou outro está lucrando assim, não vou lucrar também? Vou deixar de lucrar mais? Vou perder mercado?). Portanto, há que ter um sistema regulatório, que é a responsabilidade do lado governamental, na busca e cobrança para a sustentabilidade das construções, tendo as legislações neste embate, de fazer vingar exigências e normas que balizam as aplicações sustentáveis nas construções. A referência disto são os países em que as certificações estão consolidadas, onde o não fazer uma obra com aplicações sustentáveis implica na não aprovação do projeto no órgão governamental ou no órgão regulador, representando algo mal projetado e com concepção incorreta, nestes países a certificação sustentável é só mais um diferencial. Retornando ao lado empresarial e enquanto temos que aguardar novos planos diretores, revisões de códigos com parâmetros de sustentabilidade, situação esta um pouco distante e de resultado moroso, cabe pensar no capital conhecimento e inteligência corporativa, e se as empresas neste tempo saberão aproveitar a oportunidade para formar equipes consistentes e especializadas nesta área, criando a sua própria cultura em sustentabilidade nas construções, ou ficará na espera das cobranças para correr atrás do prejuízo com consultorias e treinamentos pesados e simples absorção de técnicas. Em sendo assim, entende-se que o empresariado deve buscar a formação de seus colaboradores em construções com sustentabilidade, especializando-os, como o primeiro passo (é sabido que ensino superior habilita os profissionais de forma ampla, mas não especificamente em construções sustentáveis) para praticar e caminhar de modo crescente a ponto de se tornar vantagem competitiva e diferencial. Pode-se predizer que aos primeiros aderentes na formação de seu capital intelectual em construções sustentáveis, estarão prontos e mais que habilitados para praticarem sem grandes transtornos as ações sustentáveis nas construções quando do liminar das cobranças tanto mercadológica, éticas, morais e governamentais. Adiciono ainda a seguinte condição de operacionalização perante o mercado e partindo do pressuposto de formar especialistas da própria empresa como o caminho ideal, para que as transições e mudanças se façam segundo a cultura da empresa e para que possam executar construções com pegadas sustentáveis ao seu melhor ritmo, pois atualmente o mercado possui poucos profissionais habilitados e consultores, razão exposta sobre a formação geral dos profissionais atuantes. A conjuntura atual das construções sustentáveis é equivalente a introdução de qualquer nova demanda, como foram as certificações de qualidade e que hoje são tão comuns, as ISOs, assim como a época em que as tecnologias de recuperações das construções tinham que contar com uma empresa construtora, uma projetista e uma empresa consultora para assistir as novas considerações e tecnologias aplicadas. Deste cenário pode-se extrair que as primeiras empresas que aderiam culturalmente a demanda, puderam se expor “na vitrine de inovadores e destaque no mercado”, com inteligência corporativa consolidada, já as outras correram atrás das exigências e prejuízos de não serem. Como o mercado construtivo está incipiente em aplicações de sustentabilidade, são indicadas para o nível estratégico empresarial as especializações em gestões para sustentabilidade, que são em si releituras de ações estratégicas aplicadas neste sentido, mas a questão é como fazer a gestão, como gerenciar e gestar as ações se ao mesmo tempo não se tem nas empresas profissionais habilitados em sustentabilidades das construções, não se tem especialistas plenos. Portanto é preciso criar a base de profissionais e esta infraestrutura intelectual para que o staff empresarial opere com as abordagens específicas ou generalistas de gestões (podem ser adaptações de enfoques estratégicos comuns ou de fato serem adaptações estratégicas às construções). Finalmente cabe salientar que gestar e realizar a gestão sem ter as bases das melhores referências e melhores práticas de sustentabilidade no setor construtivo, é infelizmente querer pular uma etapa ou desconhecer o que pode ser considerado já como história e ter que repetir esta etapa com estudos adicionais. Nota do Editor: Profa. Dra. Sasquia Hizuru Obata é Docente da FAAP e Universidade Cruzeiro do Sul, Consultora em Sustentabilidade nas Construções, Coordenadora do Curso de Pós-Graduação Lato-Sensu em Construções Sustentáveis da FAAP. E-mail: sasquia.obata@gmail.com.
|