No fundo do poço a umidade verte das lágrimas salgadas, que escorrem de uma face amargurada, desamparada, encoberta pela escuridão. Imensas paredes fazem ciranda, dançando imóveis ao redor de um vulto esquecido nas entranhas da solidão; Sem luz, sem amor, sem rumos a seguir, sem asas para voar. Somente um buraco profundo onde o vazio da própria existência teima em se alojar. Fragmentos de sentimentos, mergulhados em breus de desilusão. Forjados nas sombras do passado. Restos de lembranças à deriva em oceanos de densas tristezas sofridas. Desce como a noite o véu frio da ruína, caindo sobre o singelo corpo ferido, lançando-o em desatino ao encontro de seu destino. Nos braços do tempo, frágil carcaça é acolhida. Transformando dores em múltiplas cores. Morte em vida, escrevendo novas histórias por estradas desconhecidas. O poço vira ventre. O vulto semente. O fim reinicia. A vida se faz presente. A veste amargurada é abandonada. Dando lugar a nova pele, e a esperança enfim renasce em um sorriso criança de felicidade. Nota do Editor: Antonio Brás Constante (abrasc.blogspot.com) é escritor.
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