Apesar da idade, continuo acreditando em Papai Noel. É certo que na minha crença sofreu algumas alterações, mas continuo acreditando no bom velhinho como a encarnação do mito da memória universal, tão bem pesquisada e descrita por Mircea Eliade em seu livro "Mito e realidad". Por isso, num dia nublado, estava caminhando pela praia e aproveitando para fazer o balanço do ano que se vai e as adequações necessárias para o novo ano que se aproxima, o meu pré-natal. De repente tropecei em um objeto metálico que me chamou a atenção. Parecia uma lata de cerveja, mas estava fechava e parecia vazia. Curioso resolvi puxar o lacre e para meu espanto saiu uma fumaça que me assustou. Pensei que fosse algum gás. Para meu maior espanto, a fumaça se materializou e um cara, me chamando de mestre, se anunciou como sendo o gênio da lâmpada. - Qualé! Respondi descrente. Pelo que me consta isso é uma lata de cerveja. - A nova embalagem atende as normas da ABNT e o código de defesa do consumidor e corrige um erro que a evolução da humanidade nos descaracterizou, afinal, para vocês, gênio da lâmpada é o Thomaz Edson. A embalagem anterior agora é Made in China e é vendida em lojas de 1,99. Perdeu a dignidade. - É certo, mas latinha de cerveja não devolve dignidade a ninguém. - Se você fosse um consumidor consciente e tivesse lido o rótulo antes de abrir a lata, não faria este tipo de observação. De acordo com o protocolo assinado na convenção mundial dos gênios nós mudamos a nossa política de atuação no mercado dos desejos. - E o que mais está escrito nessas letrinhas miúdas que ninguém consegue ler? - Não burlamos o Código do Consumidor. Não cabia tudo e tivemos que reduzir a fonte. Nosso redator é muito prolixo. Mas a nova embalagem tem sido muito eficiente, tanto que ninguém resiste em abrir uma latinha de cerveja vazia. Todo mundo abre. Essa é a idéia. - Bom, então posso fazer o pedido dos meus três desejos? - Esse negócio de três desejos também foi alterado pelo protocolo assina... - Já sei, já sei, vocês também devem estar em crise e agora é só um. - Nada disso. O problema é que vocês humanos não aproveitavam a rara e especial oportunidade de realizarem três desejos, confundiam gênios com prêmios de loterias. Só pediam um monte de dinheiro, mulheres, carros e a humanidade continua a mesma porcaria. Depois da reeleição do Bush resolvemos mudar, agora somos nós, os gênios, que fazemos os pedidos para vocês, humanos, realizarem. Já pensou o Lula reeleito? - Sacanagem. Tinha que mudar justo na minha vez? - Já falei, se você tivesse lido o rótulo... - Já falei também que vocês sacanearam com o tamanho da letra. - Fica tranqüilo que não vamos sacanear nos pedidos, tanto que a gente entrega os pedidos por escrito e você tem um ano inteiro para cumprir. Toma a sua parte do nosso compromisso e jogue a lata para coleta seletiva, ela é reciclável. Hasta la vista, baby! Nem deu tempo de ler quanto menos de recusar, o fulano que na fumaça surgiu, na fumaça sumiu. Quando fui ler a lista, é que vi o tamanho da encrenca que eu havia me metido: - Se a gambazada não feder, estás proibido de mexer. - Quem é Mauro Polsin? E até quando vai continuar assim? - Os gênios não têm dúvidas de que a mão de Deus abençoou o Lula ao conduzi-lo de Garanhuns até o Planalto. Gostaríamos de saber para onde Deus deseja conduzir o povo brasileiro colocando um Lula como presidente. O primeiro pedido acho que é fácil de atender, mas os outros dois, vão além da minha capacidade. Vou pedir para o Papai Noel me dar a resposta como presente de Natal. Ho! Ho! Ho!
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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