Está sendo formalmente comemorado em 2011 o ano da Itália no Brasil. Santa Gertrudes e municípios vizinhos, como Cordeirópolis, Rio Claro, São Carlos, Araras, Araraquara, entre outros, tem bons motivos para estar envolvidos nessa iniciativa. São centenas as famílias de ascendência italiana que aqui se instalaram há mais de cem anos, contribuindo decisivamente para o desenvolvimento dessa região do estado de São Paulo. Aqui persistem suas tradições e seu legado empreendedor. Na segunda metade do século 19, a Itália não foi capaz de proporcionar conveniente trabalho remunerado à multidão de artesãos que tiveram sua atividade prejudicada pela industrialização. Ao mesmo tempo, os desencontros da unificação deixaram uma pátria incapaz de proporcionar pão necessário aos seus filhos, que a conheciam mais pela exigência odiosa do serviço militar e pelas taxas impostas pela classe senhorial privilegiada. A situação evoluiu para a alternativa de subsistência: “ou migrar, ou roubar”. Multidões de miseráveis econômicos tomaram o caminho do exílio voluntário na esperança de sobreviver, ou ter “um pão menos suado em outras terras”. Para muitos a nova terra foi a América do Norte, ou do Sul. Milhares aportaram nas costas do Brasil, desde o Espírito Santo até o Rio Grande do Sul e encontraram uma terra acolhedora também porque o Brasil passava por situações novas: de um lado o desejo do imperador D. Pedro II de “branquear” a população, diante da multidão de escravos negros trazidos da África; de outra parte, o vazio de mão-de-obra braçal, especialmente na lavoura, deixado pela abolição gradual da escravatura. As levas migrantes tiveram ambiente diferenciado: no Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) receberam terras virgens para desbravar e ocupar; já no interior de São Paulo deram com o vazio de mão-de-obra nas fazendas de café e a necessidade de supri-la. Os fazendeiros buscaram com ansiedade a força disponível dos imigrantes, italianos ou de outras nacionalidades. Habituados ao sistema de escravidão, muitos fazendeiros viram nos imigrantes meros substitutos da mão-de-obra negra. Mas não eram. Embora pobres, os imigrantes tinham instrução e capacidade de iniciativa adquiridas na pátria, como provam as colônias do Sul. Alguns fazendeiros dotados de perspicácia e humanidade logo perceberam a diferença e a capacidade da nova mão-de-obra e passaram a tratá-la com respeito. Foi o que aconteceu em Santa Gertrudes, que foi cenário da novela global Esperança, que abrigou até dois mil trabalhadores, tratados com benevolência, serviços e lazer possíveis, inclusa a desejada assistência religiosa que foi facilitada pela solicitude dos missionários de São Carlos, que se dedicaram a acompanhar as levas de compatriotas. Na Fazenda Santa Gertrudes foi proporcionada hospedagem aos missionários que se deslocavam para outras fazendas da região e o local até mereceu a visita em 1904, por três dias, do bispo João Baptista Scalabrini, fundador da Congregação dos Missionários de São Carlos, ou scalabrinianos. Na medida em que os imigrantes conseguiam quitar a dívida contraída no contrato de imigração, buscavam oportunidades de iniciativas particulares, pois ansiavam por libertar-se do ambiente de dependência patronal que os havia deixado pobres e desesperançados na terra de origem. Muitos até recebiam dos fazendeiros pedaços de terra em pagamento pelos serviços prestados. Daí nasceram pequenos empresários agrícolas ou, conforme a habilidade, artesanatos, pequenas indústrias, ou serviços que, com o tempo, evoluíram para as iniciativas atuais. Grande parte da população de nossas cidades é de descendentes desses pioneiros que, com heroísmo, visaram melhorar o bem-estar de suas famílias. Isto ocorreu tanto no Sul com a formação de povoados e cidades quase exclusivas de descendentes de uma etnia, como em nossa região: Santa Gertrudes, Cordeirópolis e seu distrito de Cascalho, o primeiro loteamento de italianos no Brasil... Nota do Editor: João Vitte nasceu em Santa Gertrudes e hoje é Prefeito da cidade.
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