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COLUNISTA
Carlos Rizzo
20/12/2004 - 19h10
Lá vem o nosso jantar!
 
 

Muitos ainda teimam em contestar. Da minha parte, não tenho dúvidas. Entre a opinião contrária de alguns historiadores e o registro das cartas do José de Anchieta, fico com o original e dispenso outras interpretações. Por outro lado, Hans Staden precisava ser no mínimo fantasioso, um relato simplesmente crível ou nada incrível, jamais encontraria patrocínio, editor e, muito menos os leitores que conquistou.

Porém, a soma dos dois relatos permite algumas considerações curiosas com relação ao canibalismo. Não era uma simples ingestão de carne humana. Para os nativos era uma cerimônia onde a antropofagia permitia apossar-se dos valores espirituais do inimigo derrotado. Diferente de hoje em dia, naquela época não se jantava um inimigo sem um mínimo de cerimônia. Os capturados fracos ou debilitados eram bem tratados antes de serem liberados para a janta comunitária. Para os índios, o estranho hábito do Anchieta recusar as mulheres oferecidas aos inimigos tirou o padre do cardápio por semanas a fio. Hans Staden, bom de bico, conseguiu enrolar seus pretensos degustadores transformando o seu falar alemão no mais perfeito e fluente francês. Junta-se a ausência de tradutores competentes e descobrimos que Chacrinha, o velho guerreiro, estava errado. Hans Staden não se comunicou e não se trumbicou. O velho Hans é a melhor prova.

Se alguém imagina que a mania antropofágica perdeu-se na noite dos tempos está redondamente enganado, essa prática é extremamente atual e o antigo cerimonial continua sendo respeitado. Os padres continuam excluídos do cardápio pelos estranhos hábitos que cultivam, se antes era a recusa pelas mulheres hoje é o hábito de se envolverem com os diversos ramos na política. Hoje em dia não dá mais para ser bom de bico (à maneira do velho Hans, é claro) não cabe ficar falando alemão onde tem que se falar português, afinal nem estrangeiro do rio do jacaré está sobrevivendo.

A escolha do secretariado de um novo governo é antes de tudo, o maior banquete antropofágico da atualidade, não falta cardápio e sobram índios com vontade de comer. Afinal o novo prefeito tem lá seus 200 cargos que ele pode nomear e quem fica de fora se não comer de garfo e faca, vai querer pelo menos lambiscar os novos itens do cardápio.

Para os 300 da confiança do prefeito que se vai, deverá ser difícil ficar de fora, mas devem levantar as mãos para os céus, estão gordinhos e só uns e outros foram comidos "d’accord".

Além desse apetite antropofágico insaciável do nosso povo, o novo prefeito tem que cuidar do apetite de alguns dos convidados. Anchieta, atendendo aos interesses dos portugueses trabalhou na Confederação dos Tamoio, colocou-se como refém e conseguiu resgatar essa parte do território do domínio dos franceses sem participar de nenhum banquete. Comendo ou sendo comido. Tendência antropofágica o novo prefeito já demonstrou que não tem, mas ele e seus secretários vão fazer parte do cardápio de muita gente. Os candidatos derrotados, um por estar de barriga cheia e o outro pelo sapo que engoliu, vão fazer a digestão por um bom tempo, mas tem vereador que já viu que não vai poder levar os seus talheres para o banquete, e decidiu que o novo prefeito vai ser prato principal no desjejum, no almoço e na janta. Tem outros que sempre jantaram os que estavam no poder que agora estão com medo de serem a janta. Confederados que não sabem confederar e só querem resgatar os próprios companheiros. Em Ubatuba o Partido dos Tamoio ainda não se decidiu se junta para brigar, ou se briga se não jantar.


Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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