"Argentina não deve pagar dívida com fome do povo", afirma Nobel da Paz
São Paulo - "A Argentina não deve pagar sua divida externa com a fome do povo". A afirmação é do escritor portenho ganhador do Premio Nobel da Paz em 1980, Adolfo Perez Esquivel, em entrevista exclusiva ontem (09/03) para o programa Revista Brasil, da Rádio Nacional. Esquivel defende a postura do presidente Néstor Kischner de não pagar a parcela da dívida argentina que vence esta semana, U$ 3,1 bilhões. O governo argentino alega que as exigências de seu credor, o Fundo Monetário Internacional, têm impedido a retomada do crescimento do país. Esquivel justifica sua posição: "A dívida é imoral e injusta e também pelo fato de o FMI pressionar os governos sem se interessar pelas condições de vida da população". Ele também sugere a união dos paises da América Latina em uma denúncia internacional à Corte de Haia demonstrando a ilegalidade das dívidas. Para ele, a atual dinâmica da economia internacional beneficia apenas aos mais ricos e despreza os paises em desenvolvimento. "A única possibilidade de melhoria real será baseada na união dos povos da América Latina em causas comuns. Nenhum país vai resolver seus problemas sozinho". Sobre a disposição dos latino-americanos em entrarem na Alca, Área de Livre Comércio das Américas, Adolfo Esquivel afirma que, "se os paises latinos entrarem na negociação, será o fim de suas soberanias, das autonomias nacionais e regionais". O escritor cita como exemplo a situação do México, que, após firmar o acordo de livre comércio com os Estados Unidos, teve sua situação econômica deteriorada, possibilitando o aumento da pobreza e da marginalidade. Esquivel afirma ainda que a postura do Brasil de priorizar o Mercosul é "prudente". Ele faz uma ressalva, com a sugestão de que o governo Lula articule com os demais países latino-americanos uma frente comum em defesa do patrimônio e da soberania nacional e continental dos povos. Nos anos 80, o presidente brasileiro Tancredo Neves fez afirmação semelhante à de Esquivel: "Não pagaremos a dívida com a fome do povo".
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