Especialistas afirmam: cresce procura por reorientação profissional
A maioria dos pais idealiza uma profissão para os filhos. Querem projetar neles o que muitas vezes não conseguiram realizar ou os incentivam a fazer um curso superior por dinheiro ou status. Para fazer a vontade dos pais, muitos acabam caindo nessa armadilha. O resultado? Tornam-se profissionais frustrados pelo resto da vida ou abandonam tudo para recomeçar. Fazer um curso para realização pessoal e profissional foi para Amáblica Graciano Tupinambá, de 28 anos, um sonho. Ela conta que em 2004 ingressou no curso de enfermagem, mas viu na Pedagogia sua chance de crescer dentro da empresa em que trabalhava. “Eu admirava a profissão e fazer o curso era uma missão de vida. Via a enfermagem como um mercado amplo e em expansão”, diz. Mas foi durante o estágio que Amáblica percebeu que não era o que queria. “Além de ser uma responsabilidade muito grande, há um desgaste emocional e o salário não é satisfatório. Concluí o curso de enfermagem, mas busquei novos horizontes”, conta. De enfermeira ela se tornou pedagoga e hoje atua em uma empresa onde trabalha há sete anos. “Não me arrependi. A Pedagogia me mostrou caminhos fora da sala de aula. Atuo na gestão empresarial do departamento de saúde de uma entidade. Conhecimento nunca é demais. A enfermagem pode me servir no futuro. A gente nunca sabe o dia de amanhã”, ressalta. Cada vez mais as pessoas estão se dando conta de que tão importante quanto o retorno financeiro é fazer o trabalho com prazer. Janaína Guimarães, de 35 anos, trabalhou sete anos como coordenadora de eventos e marketing no departamento de um órgão público. Tinha um salário razoável, status, relacionamento com grandes empresários e políticos. A vontade de ter o próprio negócio foi o motivo que a levou a abandonar anos de carreira. "Meu marido abriu um posto de gasolina e precisava de uma pessoa de confiança para cuidar das finanças. Foi aí que parei para avaliar se o que fazia era por dinheiro ou prazer. Hoje cuido do meu próprio negócio, ganho melhor e me sinto muito mais feliz”, afirma. Amáblica e Janaína agiram com prudência na hora de decidir. Amáblica concluiu o curso de enfermagem em 2006 porque já estava estagiando e só depois buscou ler e se informar sobre Pedagogia e decidir fazer. Janaína também planejou. “Assim que saí do meu trabalho, fiz um curso de seis meses para aprender a lidar com as atividades administrativas. Sou responsável pela administração da Loja de Conveniência, das compras, do caixa, do lançamento de notas fiscais e do faturamento. Uma grande experiência”, ressalta Janaína. Amáblica e Janaína tiveram um final feliz em suas escolhas. Mas, nem sempre é assim. Segundo a coordenadora de treinamento e desenvolvimento da Inthegra Talentos Humanos, Elisa Aguiar, o serviço de reorientação de carreira é um dos caminhos para a descoberta de uma atividade satisfatória. “Buscar apoio profissional para reorientação de carreira é importante para se ter uma visão ampla do que se pode fazer. É processo de planejar mudanças, preparação psicológica, autoconhecimento e, principalmente, de busca das possibilidades ocupacionais, em função da disponibilidade pessoal e das oportunidades oferecidas pelas diferentes profissões”, afirma a coordenadora. A procura pela reorientação profissional tem se tornado comum e Elisa explica os principais motivos que levam as pessoas a mudarem de profissão e dá algumas dicas: “Descontentamento salarial ou insatisfação pelas atividades que exerce, seja pela falta de afinidade com o cargo ou pela frustração quanto às expectativas. Nessa hora, é necessário analisar se está descontente com a empresa para qual trabalha ou infeliz com o cargo. Após fazer essa autoanálise e ainda assim não obtiver respostas, busque ajuda profissional", orienta a coordenadora de treinamento e desenvolvimento da Inthegra Talentos Humanos, Elisa Aguiar. Motivos que levam à desistência Segundo o professor de engenharia civil da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Arquimédes Diógenes Ciloni, de cada dez alunos que optam por determinado curso superior quatro não se graduam. “Uns desistem porque vêm de fora e falta de dinheiro para se custear na cidade, outros porque chegam à conclusão de que não era o que queriam. Que muitos pais sonham com filhos médicos, advogados, engenheiros é fato. Interferir na escolha deles é um outro motivo que leva muitos a se decidirem pela profissão errada”, destacou o professor que há 28 anos atua na mesma profissão. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC), nas universidades públicas, os fatores predominantes pela evasão escolar são a falta de informação sobre os cursos e a dificuldade de acompanhar as aulas por ter realizado um ensino médio de fraca qualidade. Na avaliação da coordenadora de treinamento e desenvolvimento da Inthegra Talentos Humanos, Elisa Aguiar, descobrir que fez a escolha errada depois de já estar no mercado requer se redescobrir antes de fazer uma nova busca. “É preciso ter foco para visionar oportunidades e desenvolvimento relacionado ao novo objetivo. É importante refletir antes, para não errar novamente. Por mais que haja a possibilidade do recomeço, o tempo é um grande vilão considerando a velocidade em que o mundo corporativo se desenvolve e transforma. Além disso, é necessário maior disposição de energia e interesse em perseguir sua meta, otimizando o tempo para tornar-se competitivo novamente no mercado”, conclui Elisa.
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