Cortastes fundo em teu, como disseste, exercício superficial de retórica, ó Machado. Sinto-me como o sândalo a exalar perfume cá em Viseu, ao ler-te. Escrevi sob o influxo da terrível bile negra, despertada por uns beberes. Sabes, meu grandíloquo cronista de O Guaruçá, não vim ao mundo para revogar a lei, por mais estúpida que algumas delas possam ser; mas para lembrar que muitas vezes, quando em nome dela se brande a espada da justiça e a da moral, há sempre, como pano de fundo, em muitas das vezes, algo de podre no reino de Dinamarca ou no de Coaquira. Mas tudo passa, eloqüente amigo, só o Superman permanece. Chegou-me cá em Viseu a informação de que o afastamento do vereador eleito recentemente à presidência da Câmara foi bastante oportuna e conveniente, uma vez que esse vereador não seria do agrado dos que estão à frente do poder executivo. Há até uma instituição da cidade que chegou a sugerir se fizesse uma nova escolha para a presidência da Mesa Diretora. Soube também que o vice-presidente recentemente eleito também não seria do agrado... Coisas de Coaquira? Ah, Machado, ouvi dizer que Coaquira vive, não é de agora, às voltas com questões eleitorais, como as que, por exemplo, elegeram os atuais mandatários. Disseram que sobre elas pairam algumas nebulosidades... Mas isso tudo deve ser coibido, como tão brilhantemente explanastes, pelo: "bem público e pela moralidade." Parabéns a Ubatuba por essa blitzkrieg pela ética saneadora. Que os cidadãos - já que o parlamento está a ser desacreditado - exerçam seus direitos de representar diretamente aos defensores públicos todas as vezes que estiver em causa o uso indevido dos mandatos, atos de improbidade administrativa de lesão ao patrimônio público, de enriquecimento ilícito etc. e que isso se estenda também ao poder executivo, responsável pelos cofres da municipalidade, que deve ser fiscalizado, pois não pode gozar de imunidades nem de privilégios. Sabes, ó Machado, a propósito do tal de Conselho Tutelar, cá em Viseu, nós mesmos tutelamos nossos filhos, não precisamos de um Estado totalitário a nos dizer como devemos criar nossos miúdos. Entre nós prevalece as orientações de nossos guias espirituais, como as de Leão XIII que diz: "Todavia, a acção daqueles que presidem ao governo público não deve ir mais além; a natureza proíbe-lhes ultrapassar esses limites. A autoridade paterna não pode ser abolida, nem absorvida pelo Estado, porque ela tem uma origem comum com a vida humana.(...) Os filhos são alguma coisa de seu pai; são de certa forma uma extensão da sua pessoa, e, para falar com justiça, não é imediatamente por si que eles se agregam e se incorporam na sociedade civil, mas por intermédio da sociedade doméstica em que nasceram. Porque os filhos são naturalmente alguma coisa de seu pai... devem ficar sob a tutela dos pais até que tenham adquirido o livre arbítrio. Assim, substituindo a providência paterna pela providência do Estado, os socialistas vão contra a justiça natural e quebram os laços da família." (Rerum Novarum - Sobre a Condição dos Operários). Ao cabo deste e-mail, se me permites, seria de bom alvitre dizer-te que deverias rebatizar-te, que trocasses o sobrenome: nem Machado, que soa à ambientalismo, nem Elciobebe, que soa à pândegos de casta inferior, mas que tal... El-Cioaçu? Portentoso, nobre, não? Fica-te a sugestão. Quanto à sentires frisson de que me tenhas por detrás de ti, são receios infundados. A menos que fosses de Curralinho (PA), jamais faria isso ao amigo. Um forte abraço, pela frente, do teu José Pinto Durão (natural de Trás-os-Montes) jpintodurao@europe.com
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