A meta de ampliar as exportações brasileiras e diversificar os mercados depende muito do agronegócio, responsável por 36,5% de nossas vendas externas e pelo fornecimento crescente dos alimentos e bioenergia necessários à sustentabilidade do Planeta. Porém, mais do que em outros ramos, a competitividade do setor no comércio internacional depende muito do transporte e logística, desde as mais remotas propriedades agrícolas, passando pelo acondicionamento, congelamento, processamento semi-industrial ou industrial e armazenagem de estoques, até o embarque com destino ao país comprador. É crucial, portanto, atender a essa demanda da infra-estrutura. A boa notícia é que a inauguração, pelo governo paulista, do trecho Sul do Rodoanel de São Paulo, significa o cumprimento de expressiva parcela dessa lição de casa, pois 60% das exportações do agronegócio nacional são embarcados no Porto de Santos, cujo acesso torna-se muito mais fluido e rápido. Vejamos: a nova via, que liga as estradas da Região Oeste da Grande São Paulo (Régis Bittencourt, Raposo Tavares, Castello Branco, Anhanguera e Bandeirantes) às do Sistema Anchieta-Imigrantes, será utilizada por nove mil caminhões/dia, reduzindo em 47% o tráfego desses veículos na Avenida dos Bandeirantes e Marginal Pinheiros. Segundo os técnicos do Governo do Estado, o caminhoneiro que utilizar o Rodoanel para ir da Anhanguera à Imigrantes passa a gastar no máximo 40 minutos, contra duas horas e meia do percurso pelas marginais, nos horários de pico. O novo percurso, além da agilidade e de evitar a passagem por dentro da Capital para se chegar ao Porto de Santos, significará economia anual de R$ 260 milhões com combustível e melhoria da qualidade do ar em 6% na Região Metropolitana. Delineia-se, assim, uma nova e emblemática etapa na logística do agronegócio, que tem no Porto de Santos, inaugurado em 1892, um velho e grande parceiro. A história começou no século XIX, quando o Brasil tornou-se o maior exportador mundial de café. Esta cultura expandia-se no Estado na direção Oeste. Para interligar as regiões produtoras do Planalto e a Baixada Santista era preciso criar um sistema mais ágil e eficiente de transporte do café, feito em lombo de burro. Então, teve início a operação, em 1867, da São Paulo Railway, ligando o Planalto ao Porto de Santos. O sistema foi um espetacular indutor do progresso, estimulando o agronegócio cafeeiro e o desenvolvimento paulista. No século XX, mais precisamente em abril de 1947, inaugurou-se a pista ascendente da Rodovia Anchieta (SP-150), um marco da engenharia nacional, com seus 55,9 quilômetros, 58 viadutos, 18 pontes e cinco túneis, constituindo-se no mais importante corredor de exportação do País. Contudo, sua capacidade de tráfego esgotou-se no final da década de 60. Para atender à demanda do trânsito, construiu-se a primeira pista da Imigrantes, nos anos 70, e a segunda, mais recentemente, cortando os municípios de São Paulo, Diadema, São Bernardo do Campo, Cubatão, São Vicente e Praia Grande. Desenhou-se, desse modo, o Sistema Anchieta-Imigrantes. Esse complexo interliga a Grande São Paulo com o Porto de Santos, o Pólo Petroquímico de Cubatão, as indústrias e fábricas do ABCD e a Baixada Santista. É o principal corredor de exportação da América Latina. Seu movimento anual é superior a 30 milhões de veículos, dentre os quais seis milhões de caminhões, responsáveis por 85% das cargas destinadas a embarque para exportação naquele terminal. Trata-se de um sistema viário decisivo para São Paulo, Estado de característica agroindustrial exportadora: 77% dos produtos do agronegócio paulista (que representa 25% das exportações setoriais) são processados no Estado e adquirem maior valor agregado. Entretanto, toda essa pujança vinha sendo sistematicamente prejudicada pelo afunilamento das rodovias nas vias marginais da Capital. É por isso que o Rodoanel é a maior obra agrícola do Brasil. Portanto, este trecho Sul do Rodoanel é um marco, tanto quanto foram a São Paulo Railway, Anchieta e a Imigrantes em suas inaugurações, na história da logística paulista. São Paulo, que já contava com as dez melhores rodovias brasileiras, passa a oferecer infra-estrutura rodoviária ao agronegócio sem similar no País. Além das modernas rodovias, há ampla rede de vicinais asfaltadas e estradas de terra transitáveis o ano todo, mantidas pelo Programa Melhor Caminho da Secretaria de Agricultura. O agronegócio nacional agradece. Nota do Editor: João Sampaio, economista, foi presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), é o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e presidente do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável (CONSEA).
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