É claro que vários produtos e serviços também nos ajudam no dia-a-dia, em nossos lares, nos ambientes profissionais, que já nem conseguimos nos imaginar, por exemplo, sem o computador, as diversas opções de comunicação de dados, voz e imagem que nos imputam valores e conceitos nem sempre digeríveis. Essa dinâmica nos envolve de tal maneira que muitas vezes não percebemos que estamos constantemente sendo empurrados para as compras, para o consumo desenfreado, numa condição de nos inserirmos “na turma”, como se nossa relação com a família e grupos sociais se baseasse pelo que temos em nossas garagens, em nossos guarda-roupas e uma infinidade de outras coisas. Por isto não é raro nos depararmos com pessoas que ‘possuem coisas’ que nem usam, que deixam de lado, ou então se apegam demais com as mesmas, chegando mesmo a se relacionar com elas como uma “muleta”, um apoio que lhes dê a falsa sensação do poder de se sentir maior e satisfeito, e assim imaginar compensar as angústias, as perdas emocionais, as frustrações e as decepções nem sempre bem trabalhadas e resolvidas. Constatamos então, que em um grau maior ou menor de consciência corremos o sério risco de nos tornarmos “pessoas coisificadas”, que se apresentam e se mostram pelo que possuem externamente e de maneira cada vez mais expositiva, não percebendo (ou querendo não perceber) que a felicidade não está nas coisas, mas sim na forma como as vivenciamos, no modo como estabelecemos as nossas relações de (in)dependência com as mesmas. E vale lembrar como disse bem o Frejat na música Amor pra recomeçar: “...diga a ele ($) pelo menos uma vez, quem é mesmo o dono de quem”. Nota do Editor: Marcos D´iorio de Paula é psicanalista e diretor corporativo da Lumiar Projetos Culturais e Educacionais.
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