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COLUNISTA
Carlos Rizzo
25/10/2004 - 12h20
Dois elefantes
 
 

Tem um ditado africano que diz: Em briga de elefantes quem sai perdendo é a grama.

Quando se iniciaram as últimas campanhas eleitorais o panorama que se desenhava era parecido com isso. Tudo indicava que a briga pelo primeiro lugar ficaria entre os dois grandes candidatos, e que, se os pequenos não tomassem cuidado, seriam igual a grama do ditado africano.

Pedro Tuzino que na eleição de 2000 quase chegou lá, debitou a sua derrota naquela época à pouca estrutura do partido e a falta de mais tempo que possibilitasse sua curva ascendente alcançar o número necessário para se eleger. Desde aquela época ele já acreditava em pesquisas. Por isso nessa campanha ele armou uma estrutura gigantesca e estaria eleito se não tivesse falado nada a campanha inteira. A vitória dele era quase que natural. "um processo viral" como ouvi alguns assessores alardearem.

Paulo Ramos, com eleitorado mais próximo de uma torcida organizada, saiu na frente de todos. Enquanto todos os outros teriam que correr atrás de cada voto para somar ao seu próprio, Paulo Ramos iniciou a corrida com oito mil votos de vantagem. Estando no poder, não foi difícil colocar toda a máquina a seu favor e começar a espalhar obras por todo o município ao ponto de nos fazer acreditar que mandato de prefeito deveria ter somente um ano para que ele não tivesse a chance de ficar três anos sem fazer nada.

Paulo Ramos tem um faro político natural, Pedro Tuzino acreditou no marketing e no lobby travestido de estratégia e saiu na rua com uma estrutura carnavalesca acreditando na máxima do Joãozinho Trinta que "quem gosta de pobreza é intelectual, pobre gosta de riqueza".

A estratégia do Paulo Ramos deu mais certo, o elevado índice de rejeição que no início da campanha batia nos 63% no final baixou para 45%, mas esta diferença não lhe rendeu os votos necessários para a vitória esmagadora que os seus assessores lhe venderam ao ponto de dispensar qualquer estrutura no dia da votação.

As duas assessorias se esqueceram de olhar com mais atenção aqueles 63% de rejeição inicial do Paulo. Todo mundo falava "o Paulinho é boa gente, mas não dá mais para suportar". A rejeição não era pessoal, era contra uma estrutura de governo. O Paulo não soube mostrar que faria diferente e o povo entendeu que o Pedro faria exatamente a mesma coisa que o Paulo, com a diferença que o Pedro não tem a empatia que o Paulo tem.

O Pedro ainda conseguiu aumentar a sua antipatia quando colocou um locutor esportivo para anunciar pesquisas que não refletiam a realidade que o povo via pelas ruas e que sabe diferenciar pesquisas eleitorais de partida de futebol.

Desta vez o povo, a grama, queria alguma coisa diferente de ser pisado e os elefantes não perceberam. Por outro lado, a estrutura restrita, as propostas de governo, a ausência de foguetório, a ausência de ataques pessoais e as camisas brancas, foram mais eficientes e cativaram os eleitores.

Estas eleições deixam uma grande lição, que nesse intervalo entre a vitória nas urnas e a vitória no tapetão e com a boataria da união do Pedro e do Paulo contra o resultado das urnas, só veio a confirmar: um elefante incomoda muita gente, dois elefantes...

Se no ditado africano quem sai perdendo é a grama, em Ubatuba na briga dos dois elefantes quem saiu perdendo foi a grana. O povo ganhou.


Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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