Ao lado de reality shows, blogs, fotologs, videologs e redes sociais, o Orkut - que se apresenta sob o rótulo de site de relacionamento - potencializa a exposição das pessoas. Na opinião de Cintia Dal Bello, coordenadora e docente do Curso de Publicidade e Propaganda da UNINOVE e pesquisadora na área, o Orkut é uma vitrine que projeta cada usuário, possibilitando as pessoas "comuns" terem seu espaço promocional. Ele atua como uma plataforma hiperespetacular de publicação de sujeitos. "Cada perfil é um canal de acesso imediato à autoestima e à autoimagem, pois representa, promove e celebra o eu", diz Cintia. Segundo a especialista, não por acaso, o encerramento da conta na plataforma é sentido como uma espécie de morte, o orkuticídio. Para a pesquisadora, sob o rótulo de relacionamento, a prática de "adicionar amigos" parece responder mais à necessidade de compor uma audiência cativa do que propriamente estabelecer laços com o outro. "O ser humano tende a buscar quantidade, quando se decepciona com a qualidade das relações. E essa é uma tendência do mundo moderno em que as pessoas não dispõem mais de tempo para cultivar relacionamentos", explica. Todo o processo de comunicação, segundo a especialista, serve à multiplicação do eu no espaço do outro: cada scrap (mensagem) ou depoimento deixado no perfil de um amigo vem acompanhado do conjunto foto/nome hipervinculado que identifica e remete ao eu. Portanto, quanto mais pontos de contato, mais pontos de exibição e visibilidade. A popularização das redes sociais, dentre as quais o Orkut ainda é líder de mercado, na opinião de Cintia, se associa mais à possibilidade de publicação mediática do eu e sua intimidade do que, especificamente, ao seu potencial técnico para a promoção de relacionamentos duradouros. "Esse encapsulamento do eu no perfil mostra uma crise de confiança que marca a pós-modernidade e reflete a retração narcísica do ser humano como estratégia de sobrevivência", explica a professora. Em sua opinião, esse tipo de "relacionamento" muito comum entre os jovens aponta para o medo do outro, com o qual só é seguro comunicar-se ou relacionar-se à distância. Plataformas como o Orkut, de acordo com a pesquisadora, possibilitam a conversão do eu em imagem e sua veiculação amplificada. "Ter um perfil não é, apenas, atender a uma condição de acesso à rede. Trata-se de uma condição de existência e de auto-afirmação", conclui.
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