Passamos recentemente por uma campanha digna de registro com uma característica que cada vez tem-se tornado comum em Ubatuba. O preço do poder que as pessoas se dispõe a pagar extrapola qualquer senso comum. Os papéis apócrifos, os bilhetes com calúnias os números de pesquisas em papeizinhos parecidos com pule de jogo, a quantidade de boatos. O anúncio de alianças impossíveis. Paulo Ramos apostou na divisão dos concorrentes. Ciente do eleitorado cativo que tem e que se confirmou nas urnas, preferiu ficar quieto enquanto os concorrentes corriam atrás dos votos restantes. Com uma rejeição e uma crescente reprovação ao seu governo, uma exposição excessiva significava mais perda. Pedro Tuzino, que na outra eleição quase foi a bola da vez, teve a certeza que era chegada a hora, que dessa vez emplacava, que ele continuava sendo o voto de protesto e se apresentou desde o início da campanha como o grande vencedor dessas eleições. A impressão que dava é que o dia 3 de outubro era mera formalidade, foi passando por cima de tudo e de todos. Se tivesse seguido o exemplo do Paulo Ramos e ficado quieto, com certeza estaria eleito. Os outros eram os outros. A eleição estava polarizada entre o não ao Paulo Ramos pela continuidade da sua administração ou o sim ao Pedro Tuzino como a única salvação e não havia espaço para mais nenhum candidato. O povo até hoje não sabe se votou no melhor, o povo votou pela exclusão do que ele foi descobrindo que não queria. Depois que o Pedro Tuzino começou a falar o povo viu que não havia diferença entre ele e o Paulo Ramos. Quando ele acordou para esse fato já era tarde, restou o apelo desesperado como primeiro lugar numa pesquisa espúria, a compra mal explicada do Giro na Praia, a distribuição desastrada da pesquisa impugnada. Outra arma muito usada era a venda das candidaturas para o Paulo Ramos. Falava-se que todos, menos o Pedro Tuzino, já haviam feito acordo com o Paulo Ramos, o objetivo era aproveitar a imensa rejeição do Paulo e associa-lo a qualquer outro candidato que subisse nas pesquisas para tirar os votos que naturalmente seriam carreados para Pedro Tuzino. Falava-se que o Rogério Frediani era o pit bull do Paulo Ramos, que bastava iscar para cima de qualquer um que o Rogério avançava em quem o Paulo Ramos mandasse. Quando o Eduardo César começou a subir, a primeira coisa que se falou foi que o Paulo Ramos, ciente da derrota eminente, estava apoiando o Eduardo César com o compromisso deste de não mexer com tanta seriedade nas contas da Prefeitura. Paulo Ramos e Pedro Tuzino eram inimigos tácitos e os outros candidatos foram usados como joguetes para aumentar ou diminuir rejeições e preferências. Em plena campanha jamais se poderia imaginar qualquer acordo entre os dois principais concorrentes. As urnas apresentaram outro panorama. Eduardo César venceu, Paulo Ramos estranhamente em segundo e Pedro Tuzino absurdamente como terceiro colocado. Restou uma pendência jurídica movida pelo Pedro Tuzino que com um terceiro lugar na mão, pouco interesse teria em levar para frente. Havendo procedência à questão, o maior beneficiado será o Paulo Ramos que continua mantendo-se afastado, assistindo na platéia o empenho do Pedro Tuzino em levar a questão para frente. Vou salientar o estranho empenho do Pedro Tuzino, que a princípio nada tem a ganhar a não ser que haja algum acordo com o Paulo Ramos. O que é no mínimo hilário.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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