A Patologia das Construções é uma ciência relativamente nova, que estuda os diversos problemas a que as construções estão sujeitas, sejam eles decorrentes de falhas de projeto, execução, mau uso ou o envelhecimento natural das edificações. O tema, apesar de parecer estranho, tem uma importância transcendental, pois os conhecimentos mais profundos desta ciência nos dão condições de ter uma visão ampla do processo edilício sob a ótica da segurança e durabilidade. O conhecimento do comportamento patológico sob o aspecto de degradação e de previsão da vida útil permite incorporar no processo de construção o conceito de manutenção realizado corretamente, aumentando dessa forma o tempo de utilização da mesma em boas condições de segurança e desempenho. Os problemas Patológicos na Construção não atingem só o Brasil, América do Sul ou América Latina, representam também um investimento importante nos países desenvolvidos nas últimas décadas. Trata-se de manter o patrimônio construído. As últimas estatísticas demonstram que nos EUA mais de 1/3 do investimento na construção civil é destinado a obras de recuperação. Tem-se realizado várias iniciativas no sentido de conhecer melhor os problemas de envelhecimento e deterioração com pesquisas importantes na Europa, América do Norte. Na América Latina um grande esforço ter sido feito pelas redes Durar e Rehabilitar. No Brasil existem muitos fatores que provocam a degradação das edificações, relacionados com aspectos ambientais, principalmente por ser um país tropical com temperaturas e umidades médias altas desencadeando fortes processos corrosivos que podem reduzir sensivelmente a segurança e durabilidade. Junto aos 8.000 km de costa o problema é agravado, pois a nevoa apresenta grande quantidade de sais agressivos que se depositam sobre a superfície das estruturas. Além disso, temos grandes pólos de desenvolvimento industrial, localizados nas principais cidades ou áreas específicas como, por exemplo: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso, Bahia etc. Todas essas indústrias geram ações corrosivas que diminuem de forma brutal a segurança e a durabilidade, tanto no seu entorno como nos ambientes internos de produção, com vários níveis de agressividade, tanto ao concreto como a todo tipo de materiais metálicos, que compõem as estruturas. Outra questão é com relação ao cuidado com a qualidade de nossas construções que em muitos casos deixa muito a desejar. Um exemplo é a elevada quantidade de acidentes relacionados com estruturas leves, principalmente em postos de serviço, nos quais as estruturas são executadas sem o mínimo cuidado técnico, sem projeto e montadas por empresas desqualificadas. O mercado mundial de reparo e proteção de estruturas vem crescendo e com isso os custos econômicos e sociais da deterioração estão cada vez mais presentes nas economias dos países em desenvolvimento, sendo os custos econômicos diretos estimados entre 1,25% a 3,5% do Produto Nacional Bruto dos países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Os custos sociais e os custos econômicos indiretos são mais complexos, às vezes impossíveis de serem contabilizados com precisão e em alguns casos irressarcíveis. Um exemplo de custos indiretos ou perdas econômicas para a população ocorreu por ocasião da ruptura de cabos em uma viga protendida da Ponte dos Remédios, em São Paulo. A marginal Tietê, no sentido Centro - Vila dos Remédios, ficou interditada por mais de uma semana. Na semana de interdição registrou-se um congestionamento de 159 km na cidade e 52 km nas rodovias. A marginal Tietê foi parcialmente liberada durante os serviços de recuperação da Ponte, que ficou interditada para os serviços por quase meio ano. Embora a deterioração seja em geral um processo lento, a ruína de estruturas tem ocorrido, por negligência ou desconhecimento da gravidade do problema por parte dos proprietários. Do ponto de vista técnico, vários estudos têm sido desenvolvidos para explicar, diagnosticar e remediar a fenomenologia, que dentre as manifestações patológicas das estruturas em concreto armado no mundo, apresenta-se com uma incidência entre 14% e 58%. A corrosão de armadura tem sido uma das principais patologias, responsável pela redução da vida útil das estruturas de concreto armado. Seus mecanismos e causas já foram compreendidos. Várias soluções já estão disponíveis e a cada dia novos produtos surgem no mercado e outros tantos estão em estudo, seja para a prevenção ou para terapia. O concreto seja armado ou protentido apresenta-se amplamente viável do ponto de vista técnico: pela facilidade de adaptação a qualquer tipo de forma e a facilidade de execução, permitindo total liberdade à concepção arquitetônica, estrutural e de método construtivo, liberdade essa que nenhum outro material propicia. Muitos argumentos estão válidos quando se fala que o concreto armado é o sistema estrutural mais viável para construção, exceto quando se fala em manutenção e conservação praticamente nulas. Prova de que isso não é verdadeiro: diariamente encontram-se estruturas de concreto armado com menos de dez anos com corrosão de armaduras, e elevados custos de manutenção. O correto seria afirmar que o concreto poderá apresentar manutenção e conservação praticamente nulas, desde que o concreto seja de elevado desempenho e a estrutura tenha sido bem executada. Para construções de concreto armado em áreas agressivas existe a opção de empregar inibidores de corrosão, sejam de base mineral, orgânicos ou mistos. Esses aditivos já são fornecidos formulados por empresas fabricantes de produtos químicos, mas apesar dos sucessos obtidos em casos reais e de várias pesquisas o seu uso no mercado nacional tem sido insignificante, devido a uma visão pouco ampla, sem considerar a análise de custo de ciclo de vida. O mesmo acontece com a utilização de outros métodos, como por exemplo a proteção catódica. Outro fato que ocorre frequentemente no Brasil é a baixa durabilidade de soluções de reparo e proteção, fruto de uma abordagem inadequada, sem um estudo completo do caso antes de se partir para a execução. O mercado da engenharia e o público em geral devem entender que qualquer trabalho de recuperação realizado sem a orientação de uma empresa ou profissional especializados será um jogo de tentativa e erro, com grandes probabilidades de insucesso e gastos desnecessários. Nota do Editor: Antonio Carmona Filho é engenheiro civil, mestre e doutor em engenharia de materiais pela Escola de Engenharia da Universidade Mackenzie. É especialista em Patologia das Construções pelo Instituto Eduardo Torroja de Ciências de La Construcción e faz parte do quadro de palestrantes do CINPAR 2009, que acontece de 11 a 13 de junho em Curitiba (www.cinpar2009.com.br).
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