Sempre trabalho para que a nossa Câmara de Vereadores tenha mulheres na sua composição. Durante a campanha todos os candidatos a vereadores que vieram pedir o meu voto ouviram que só voto em mulheres para o cargo. Não acredito que haja respeito, sobriedade, seriedade e honestidade plena em uma câmara com uma totalidade de homens, ou de mulheres. O equilíbrio é fundamental. Além do mais, o homem é normalmente mais cara-de-pau do que as mulheres, basta olhar com critério a lista dos candidatos a vereadores, começa pelos nomes de campanha, que muitos deles se assemelham a alcunhas, e para arrematar, olhe a quantidade de candidatos completamente analfabetos. É muita falta de respeito. Teve um que eu conheci na campanha em 2000 e que era completamente analfabeto, teve boa votação, mas não foi eleito. Na época conversei com ele para entrar num curso noturno e aproveitar os anos até a próxima eleição para se aprimorar mais. Nesta ele saiu candidato novamente e veio pedir o meu voto. Alegando falta de recursos e de tempo ele não se alfabetizou e diante da insistência no meu voto lhe respondi que a minha cara-de-pau não chegava a tanto. Tirando as 46 candidatas mulheres dos 187 candidatos desta eleição, sobram 141 candidatos homens. Olhando a lista, desses 141 conheço 98, mas apenas 18 deles teriam o meu voto. Das 46 candidatas mulheres conheço 33, e votaria tranqüilo em 22 delas. Os partidos deveriam demonstrar mais respeito aos eleitores na composição da chapa de candidatos a vereadores. O próprio partido deveria exigir qualificação dos seus candidatos e eliminar aqueles que não atingissem um mínimo desejável. Do jeito que está, continuaremos vendo candidatos eleitos pelo grau de assistencialismo que eles possuem e não pela capacidade de legislar que devem ter. Basta ver a câmara recém-eleita. O famoso "é dando que se recebe" tem um sentido bem claro e totalmente disseminado entre os homens, já entre as mulheres tem associações que a grande maioria não deseja para si. A mulher é humana. O homem quer ser um mano. A mulher que muda de posição por dinheiro, é discriminada pela sociedade. Os homens que mudam de qualquer posição por qualquer dinheiro estão em todos os lugares da nossa sociedade. Por tudo isso é que acredito mais na honestidade das mulheres. Pena que elas mesmas não se dão esse valor. Nem com o fim da obrigatoriedade da cota mínima de candidatas resolveria, já que nestas eleições as 46 candidatas amealharam 9% do total, não atingindo sequer o coeficiente mínimo para um vereador. Nas eleições do ano 2000 foi do mesmo jeito, e é interessante recordar alguns números. Naquela eleição tivemos 34 candidatas que juntas somaram 2.881 votos cerca de 7% dos votos. Nesta eleição, tivemos 46 candidatas que somaram 3.753 votos ou menos que 9% do total de votos. Se lembrarmos que o voto feminino gira em torno de 50% dos eleitores, 25.000 votos, e que naqueles 3.753 votos tem muitos votos masculinos, concluímos que mulher não vota em mulher e que, sem questionar o valor pessoal, a eleição de uma única mulher com 1,24% (488 votos) é mero acidente de percurso. Na Grécia antiga as mulheres defenderam Atenas enquanto os homens guerreavam defendendo a Pátria. E as Mulheres de Atenas fizeram História. Na Ubatuba moderna, os homens corrompem e corroem os poderes e as mulheres continuam, mulheres de apenas, apenas poucos votos.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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