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Corpo do escritor Fernando Sabino é enterrado no Rio.
O corpo do escritor Fernando Sabino foi enterrado ontem, às 11h30, no Cemitério São João Batista, em Botafogo (RJ), ao som de jazz executado pela Ramblers Tradicional Jazz Band, na qual o escritor tocava bateria. O cortejo e o enterro ocorreram "em um clima sem dramas", como definiu a escritora Marina Colassanti. A cerimônia foi acompanhada pelos seis filhos do escritor, entre eles a cantora Verônica Sabino. "Acho muito bonito que não haja um clima de drama. O drama não se comprazia ao Fernando. Ele sempre foi uma pessoa muito para cima, muito alegre e brincalhona. Eu acho bom que os amigos se despeçam dele em um clima que ele sempre favoreceu", disse Marina. Bernardo Sabino disse que o pai conseguiu manter uma certa rotina de vida até a última sexta-feira, quando seu quadro de saúde piorou. "Ele, de uma certa forma inconsciente, já estava manifestando desejo de ir embora. Ele estava sofrendo muito com essa doença", disse Bernardo, acrescentando que a família tentou de tudo nos dois últimos anos para combater o câncer de fígado que vitimou o escritor. Segundo ele, seu pai era uma pessoa aberta, que falava com todos: era amigo dos porteiros do prédio em que morava em Ipanema, tentava legalizar as bancas de venda de livros nas esquinas do bairro e ajudava instituições carentes. "Ele doou tudo o que ganhou com o livro que escreveu sobre a ex-ministra Zélia Cardoso de Mello para uma instituição carente, mas só depois as pessoas vieram a saber disso. Criticaram esse livro, alegando que ele tinha ganho muito dinheiro, o que o afetou muito", afirmou Bernardo. O corpo de Fernando Sabino foi enterrado no dia em que o escritor completaria 81 anos. Em sua lápide consta a frase: "Aqui jaz Fernando Sabino que nasceu velho e morreu menino", como ele determinou. Artistas e intelectuais destacam importância de Fernando Sabino para a literatura brasileira A importância da produção literária e a arte de fazer amigos foram as características mais lembradas nos depoimentos dados nesta terça-feira por artistas e intelecutais que acompanharam o enterro do escritor Fernando Sabino, no Cemitério São João Batista. Para o poeta Afonso Romano de Sant’Anna, o escritor Fernando Sabino era uma "pessoa alegre", "nada ressentida" e "vitorioso". Ele analisou que, com a morte do escritor, finda-se uma época, porque o mundo das décadas de 40 até princípio de 70 trazia mais expectativas e utopias. "Ao contrário de hoje, que se vive numa sociedade estraçalhada, com valores confusos", disse. Segundo Afonso, a obra de Sabino refletia essa época. "É uma literatura quase clássica dentro do modernismo, com histórias que retratam o seu tempo e sempre bem-humoradas. Mesmo os romances policiais dele, eram dramas que revelavam uma visão meio lúdica do mundo, uma armação; não era essa coisa patética e trágica de hoje", analisou. O poeta ainda lembrou da beleza da amizade do que chamou de "Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse", ou seja, a união de Sabino, Otto Lara Rezende, Paulo Mendes Campos e Hélio Pelegrino. "Isso ninguém no mundo consegue repetir. Nenhum grupo de escritores no mundo consegue repetir, porque isso é um mistério. Saber como quatro escritores competentes de muito valor conseguem viver a vida inteira, sem inveja, sem concorrência, sem tentar destruir um ao outro. Ao contrário, construíram uma espécie de auto-proteção que fazia com que um fosse êmulo do outro e daí essa coisa bonita que era a amizade e a obra deles", afirmou. A escritora Nélida Piñon destacou a imagem positiva deixada por Fernando Sabino. "Era uma grande personalidade, generosa, um homem com muito humor e que soube captar a alma mineira, a alma carioca e, portanto, a alma brasileira. Eu estou comovida e, ao mesmo tempo, acho que ele nos deixa um legado extraordinário que muitos poucos brasileiros podem deixar, mas que estão representados por Fernando Sabino. Um grande brasileiro que ocupou todas as instâncias da nossa realidade". Nélida disse ainda que o primeiro legado de Sabino é a literatura, com uma forma de escrever como poucos, "sem ser machadiano, mas com uma forma escorreita de Machado de Assis". Entre os presentes na cerimônia, também estavam Marina Colassanti, Thiago de Melo, Ferreira Gullar, Ziraldo, Zuenir Ventura, Wilson Figueiredo, os deputados Miro Texeira (PPS-RJ) e Roberto Arruda (PFL-DF), e os atores Rosamaria Murtinho e Mauro Mendonça.
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