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SEÇÃO
Medicina e Saúde
30/04/2009 - 06h11
Alarme sem alarde
Moises Chencinski
 

Vez por outra isso acontece. Por alguma razão, os alarmistas de plantão lançam ao ar informações que desestabilizam a população.

A “bola da vez”? A gripe suína.

Hoje, estamos acompanhando notícias informando que a Organização Mundial de Saúde reconhece a possibilidade de uma pandemia, com risco mundial. Mesmo assim, a própria OMS não desaconselha viagens regulares ou fechamento de fronteiras e afirma que não há risco de infecção pelo vírus pelo consumo de carne de porco cozida ou produtos derivados.

É necessário estarmos alertas.

Prudência é recomendada, tanto em relação à doença quanto em sua divulgação.

Estamos fazendo diagnósticos sem sintomas e nem pacientes, sem exames comprovatórios e já estamos preparados, como em uma guerra, para medicar uma doença que ainda não chegou nem perto daqui.

Atualmente o nível de alerta para pandemia global (epidemia generalizada) acabou de passar para nível 5. Só o tempo nos dirá o que pode acontecer. Precisamos estar preparados. Desesperar jamais.

A gripe suína

É uma doença respiratória de porcos, provocada por um vírus influenza do tipo A, iniciada no México e que pode se propagar rapidamente.

O vírus

O vírus influenza tipo A é o responsável pela doença. Esses vírus têm alto poder de mutação e isso pode ocorrer no homem e no porco, um animal que possui, nas vias respiratórias, receptores sensíveis aos vírus da influenza de suínos, humanos e aviários. A partir dessa combinação, surgem novos tipos de vírus.

O vírus da gripe suína causa altos índices de doença e baixos índices de morte nos porcos. A maioria dos surtos ocorre no final do outono e nos meses de inverno, semelhante aos surtos em seres humanos.

Atualmente, há quatro tipos de vírus de gripe suína do tipo A são H1N1, H1N2, H3N2 e H3N1. O atual é uma mutação do H1N1.

O contágio

Esses vírus podem passar, por proximidade (chiqueiros, feiras, por exemplo) dos porcos para as pessoas e daí para os porcos novamente. Pela tosse ou pelo espirro de pessoas infectadas o quadro pode ser transmitido entre os humanos (como qualquer infecção viral respiratória – caxumba, rubéola, sarampo etc.).

Sintomas

Os sintomas são normalmente similares aos da gripe comum, porém, muitas vezes, mais agudos e incluem febre, moleza, falta de apetite e tosse. Coriza clara, garganta seca, náusea, vômito e diarréia também podem acontecer, assim como, dores de cabeça, dor muscular e articular.

Em resumo, não há sintomas específicos que identifiquem o quadro de gripe suína. São os sintomas de qualquer gripe.

Diagnóstico

Só se consegue a certeza isolando-se o vírus influenza tipo A, analisando amostras respiratórias dos pacientes, nos primeiros 4 a 5 dias ou até 10 dias em crianças.

Vacinação

Até hoje, a vacina contra gripe suína só existe para os porcos e com o vírus sem mutação. As vacinas atuais de gripe não oferecem proteção contra a gripe suína. Pela evolução do risco, busca-se uma solução a curto prazo para elaboração dessa vacina.

Tratamento

Algumas drogas antivirais (zanamivir e oseltamivir) estão sendo usadas na prevenção e tratamento da doença, tentando impedir a replicação do vírus dentro do corpo humano. Até agora, se observou uma diminuição da agressividade da infecção com o tratamento. Para sua maior eficácia, é necessário começar sua utilização nos dois primeiros dias de sintomas.

Duas questões a se pesar:

1) O diagnóstico laboratorial de confirmação só é feito após o 4º a 5º dia de doença.

2) Esses sintomas são comuns à maioria dos quadros respiratórios, que não são apenas provocados pelo vírus influenza. Resfriados simples, nos dois primeiros dias, podem cursar com coriza, tosse, espirros, mal estar, dor de cabeça (por exemplo) e até com febre alta e não devem ser tratados com esses medicamentos.

O uso indiscriminado desses antivirais pode induzir a mais mutações e a efeitos colaterais com riscos desnecessários.

Prevenção

Segundo o CDC (Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos EUA), a atitude mais adequada e cabível para o momento é evitar a doença e o contato com pessoas doentes. Os cuidados higiênicos são os mesmos que se deveria ter para prevenir contágio de quaisquer doenças infecto-contagiosas.

O uso de máscaras respiratórias ou cobrir o nariz e a boca quando tossir ou espirrar são questionáveis, se você não tiver o contato com pessoas provenientes das regiões onde está a doença.

Lavar as mãos com água e sabão, sempre após espirros ou tosse.

Atenção: Não há contaminação ao comer a carne de porco cozida (a 70º) porque os vírus da gripe suína são destruídos a essa temperatura.

No Brasil

Nenhum dos casos, segundo o Ministério da Saúde, preenche a definição de caso suspeito conforme os critérios estabelecidos, até agora, no Brasil. Devem ser encaminhados aos serviços de saúde de emergência, apenas os sintomáticos que chegarem de áreas em que já se confirmou oficialmente casos e que apresentem sintomas como febre repentina, acima de 38°C, acompanhada de um ou mais dos seguintes sinais: tosse, dificuldade respiratória, dores de cabeça, musculares e nas articulações.

Entenda as classificações

· Tipo de caso em relação à infecção humana pelo vírus da influenza suína A (H1N1).

1- Caso suspeito

Febre superior a 38ºC e tosse acompanhada de um ou mais dos seguintes sintomas: dor de cabeça, dores musculares e nas articulações E:

- procedência ou viagens recentes para as áreas de ocorrência de casos OU

- contato próximo (*) com casos confirmados de infecção humana pelo vírus influenza suína

A(H1N1) destas áreas, nos últimos 10 dias.

(*) Contato próximo: indivíduo que cuida, convive ou teve contato direto com secreções respiratórias ou fluidos corporais de um caso confirmado ou provável.

2- Caso provável

Definido como indivíduo que apresentar teste positivo para influenza A, mas não sorotipável pelos reagentes utilizados para detectar vírus influenza sazonal OU

Indivíduo com doença compatível clinicamente OU que foi a óbito por doença respiratória aguda e com vínculo epidemiológico a caso provável ou confirmado.

3- Caso confirmado

Definido pela confirmação laboratorial dos casos efetuada por um ou mais dos seguintes 3 testes: RT-PCR e seqüenciamento, isolamento viral e aumento em 4x dos títulos de anticorpos específicos (sorologia, 1ª amostra até 7 dias do início dos sintomas e a 2ª amostra, no mínimo, após 15 dias ou até 21 dias).

· Fases de epidemia segundo a OMS.

Fase 1: Nenhum vírus circulando em animais causou infecção em humanos.

Fase 2: O vírus Influenza circulante entre animais domésticos ou selvagens causou infecção em um ser humano e é considerado uma ameaça potencial de pandemia.

Fase 3: Mutações de vírus animais ou humanos-animais causam casos esporádicos de doenças em humanos, mas não resulta em transmissão de homem para homem da doença.

Essa transmissão só ocorre em situações especiais (contato próximo entre indivíduo infectado e um cuidador desprotegido).

Fase 4: Transmissão viral de homem-a-homem, capaz de aumentar os níveis populacionais de uma epidemia, podendo criar condições para uma pandemia mas sem certeza absoluta desse desfecho.

Fase 5: Transmissão viral inter-humanos em pelo menos dois países de uma mesma região da OMS. Esse é o momento de estar com a organização, comunicação e implementação dos planos e medidas de controle preparados.

Fase 6: Fase da pandemia iminente.

Você sabia que só de janeiro a março de 2009, tivemos 1.397 casos de dengue no Estado de São Paulo?

Você sabia que de fevereiro a abril de 2009, foram detectados 25 casos de febre amarela com 9 óbitos (36%) no Estado de São Paulo e de dezembro de 2008 a março de 2009, foram 23 casos e 9 óbitos no Rio Grande do Sul?

Mais uma vez, prevenir ainda é melhor do que remediar.


Nota do Editor: O Dr. Moises Chencinski (www.doutormoises.com.br) é médico pediatra e homeopata, autor dos livros "Homeopatia - mais simples do parece" e “Gerar e Nascer – um canto de amor e aconchego”.

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