Transformar a vida das pessoas de sua comunidade através do lúdico mundo da leitura. Esse foi o principal objetivo de um jovem, nascido e criado no subúrbio do Rio de Janeiro (RJ), filho de uma dona de casa e um pedreiro. Desde 2003, Otávio César Santiago de Souza Junior, com muita determinação, vem mudando a realidade de comunidades carentes com o Projeto Ler é 10 – leia favela. “Queremos, acima de tudo, democratizar a leitura e dar acesso a livros às crianças de comunidades de baixa renda”, esclarece. Cansado de ver as crianças de sua comunidade ociosas e sem contato com o livro, o jovem decidiu criar um projeto de incentivo à leitura. Com os poucos exemplares de seu acervo pessoal e com idéias obtidas em cursos de promoção de leitura, escrita e participação em seminários e feiras de livros, o projeto começava a caminhar. “Quando criança, descobri o prazer pela leitura por acaso, depois que encontrei um livro no lixo, e não desejo que crianças de comunidades de baixa renda descubram a leitura como eu descobri”, explica. Para Otávio, ver o projeto (que teve início em 2003) em andamento é a realização de um sonho. O sonho de ver as crianças do bairro onde cresceu e de outras comunidades lendo e apreciando literatura. Em menos de dois anos e meio o número de crianças atendidas passou de 2.500 para 5.000. Atualmente o projeto já atende as comunidades de Vila Cruzeiro, Grota, Fazendinha, Caracol, além de apoiar ONGs, associações de moradores que já atuam na comunidade, com atividades lúdicas e educativas para a promoção da leitura. Através de muito trabalho e dedicação Otávio conseguiu realizar um sonho antigo de inaugurar o primeiro espaço de leitura na comunidade, no Parque Proletário da Penha, a 200 metros da Vila Cruzeiro. Dentro do projeto, as comunidades têm acesso a atividades como o “Lanchinho literário”, “Cinema literário” em que são apresentados filmes adaptados de livros literários, “Maratona de leitura”, “Pombo-Correio literário” e as oficinas de produção de livretos. Apesar dos históricos de violência dos subúrbios cariocas, Otávio afirma que o projeto foi muito bem aceito. “As pessoas enxergam as comunidades cariocas como antros violentos, mas não sofremos retaliação alguma por parte do crime organizado. Eles não impedem o nosso trabalho, pois nossa meta é a inserção da cultura e educação. A receptividade sempre foi muito boa”, garante. Segundo Otávio o que falta para aumentar o interesse pela leitura é o incentivo. “Falta investimento de políticas públicas e privadas para a democratização e acesso ao livro. Há várias questões que afastam o brasileiro do livro, como o alto preço, a falta de hábito, o avanço de novas tecnologias. Mas tenho esperanças de que esse quadro seja revertido em um curto espaço de tempo”, afirma. O projeto venceu no ano passado o Premio Faz Diferença e, oficialmente, conta com o apoio da Afeigraf e Instituto Kinder do Brasil. Recebe doações de livros de escritores, ilustradores e pesquisadores de literatura infanto-juvenil. Aos 24 anos Otávio César já é autor de duas obras infanto-juvenis, publicadas de maneira independente, além de autor, contador de histórias e produtor executivo teatral.
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