Há tempos acompanhamos os noticiários sobre as principais mercadorias de exportação do Brasil. Entre as primeiras da pauta, temos as sempre reverenciadas: soja, café, avião, minério de ferro, petróleo, veículos, carnes etc., que trazem divisas e geram empregos, o que é muito bom para o País.

Mas a grande questão do momento, em meio a maior crise econômica da história do capitalismo - lembre-se que a de 1929 foi norte-americana - é: como ficarão as vendas de mercadorias no futuro, próximo e distante? A resposta: teremos de continuar fazendo um esforço exportador cada vez maior, de modo que a atividade gere o crescimento necessário.

Mas conquistar mercado, a essa altura dos acontecimentos, significa deslocar outros Países que têm o mesmo objetivo, e, a partir daí, talvez esperar as guerras sujas do protecionismo, embora acreditemos que não será uma tarefa fácil para nenhum País.

A questão é saber, e comprovar futuramente, se o Brasil tem cacife para isso, em meio ao tiroteio econômico global para ver quem acerta mais. Ou erra menos.

Desejamos que esse esforço não se arrefeça com uma possível retomada do crescimento do mercado interno, que é para onde mais se direcionam os parcos investimentos realizados no momento. Já houve experiências anteriores de desvio de atenção do comércio exterior para o mercado interno, que não foram boas.

Conquistar mercado é difícil, reconquistar é quase impossível.

No entanto, o País tem um produto de exportação ao qual nunca se deu a devida atenção. Aliás, muita gente nem pensa nessa possibilidade como concreta e de grande utilidade. Colocamos à discussão uma idéia, nada nova para muitos, que julgamos ser de grande valia para ajudar na redenção da economia nacional e melhor que qualquer mercadoria que se queira privilegiar.

Estamos falando do turismo, que pode fazer aumentar muito as divisas do País, melhorando sobremaneira suas reservas em moeda forte. E, naturalmente, com plenas condições de gerar os empregos necessários ao País, perdidos com a atual crise.

O Brasil tem sol praticamente o ano todo e está ligado ao mundo por meio de transportes e comunicações de todos os tipos. Vir ao País é uma tarefa que não requer prática nem habilidade. Ficamos pensando, e não entendemos direito, por que o Brasil não se esforça para atrair turistas?!

O País recebe, atualmente, pelo que se sabe, algo em torno de 5 milhões de turistas. A França recebe, de acordo com o noticiário, cerca de 70 milhões de turistas por ano, enquanto a Espanha recepciona 60 milhões de pessoas. Além de que algumas cidades do mundo recebem mais turistas do que o Brasil.

Sabemos que, mesmo a Argentina, recebe mais turistas do que o nosso País, apesar de ser bem menor geograficamente e, talvez, nem tendo tantos atrativos quanto nós temos num País continental como o nosso.

Pode-se pensar que as pessoas adoram visitar cidades famosas e históricas, como é o caso de Atenas, Roma, entre outras. No entanto, isso não explica a situação do Brasil no setor de turismo, pois as pessoas não querem ver ou visitar apenas cidades assim.

O Brasil é um País maravilhoso do ponto de vista físico e tem belezas naturais extraordinárias. Temos algumas das mais belas praias do mundo, assim como a maior floresta tropical do mundo, um belo pantanal etc. Há, sem dúvida, muito que ver no Brasil.

Fica a pergunta, então, qual é o grande problema? Na realidade temos muitos grandes problemas. O turista não encontra a segurança ideal para visitar o País. Não há em nossa população um grande contingente de pessoas que fale idiomas estrangeiros, para deixar o turista à vontade e auxiliá-lo. Nem sempre o turista é reverenciado da maneira que merece, o que deveria ocorrer, uma vez que traz ao País as divisas necessárias à sua sobrevivência.

É preciso investir especificamente no turismo, em especial em segurança, de modo que se garanta ao turista um retorno são e salvo e não a morte em suas férias, como temos visto acontecer em demasia.

Não vimos, ao longo de nossa história, um esforço de vendas do País no exterior. Quando já se fez uma grande exposição de fotos para mostrar, por exemplo, as praias brasileiras de modo a deixar o turista com água na boca?

O governo já pensou em afretar um avião para 200 passageiros, enviando à Europa uma ala atraente de alguma escola de samba para mostrar o que temos? Que tal um desfile em cada capital européia, dizendo ao turista que aquilo representa menos de 5% de uma escola de samba? Assim com muitas outras atrações.

Quais seriam os efeitos do aumento do turismo? O que ocorreria se criássemos condições para o recebimento de milhões de turistas por ano? Ainda que abaixo do que recebem os Países europeus citados?

Será que haveria alguma dificuldade para um País bonito e cheio de atrativos como o nosso, atrair, por exemplo, meros 70 milhões de turistas?

Suponha que um turista passe, em média, 10 dias no Brasil e gaste aqui cerca de US$ 1.000,00 nesse período. Isso representaria uma entrada em divisas de 70 bilhões de dólares norte-americanos, ou seja, cerca de metade de tudo o que o País deve exportar em mercadorias neste ano.

Em poucos anos teríamos todas as condições para ter um verdadeiro crescimento sustentado. Nada cria mais empregos do que o setor de serviços, e o turismo é um dos maiores criadores de emprego. É disso que o Brasil precisa.

O que falta para isso? No nosso entender, apenas uma visão prática, de futuro e, em especial, vontade política.

Nota do Editor: Samir Keedi é economista e professor da Aduaneiras em assuntos de Comércio Exterior.