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Turismo e Viagem
08/01/2009 - 11h00
Temporada marítima
Vanessa Brito - ASN
 
Cruzeiros marítimos levam 500 mil turistas à costa brasileira. Temporada 2008/2009 de viagens começou em novembro passado e se estenderá até abril

Milhares de turistas estão curtindo o verão a bordo de belos, modernos e confortáveis transatlânticos estrangeiros, que realizam cruzeiros marítimos de cabotagem na costa brasileira. Diante da crise econômica mundial e da disparada do dólar, nesta temporada muitos brasileiros substituíram a viagem ao exterior por uma viagem nacional pelo mar, especialmente depois de examinar a relação custo-benefício oferecida pelos navios que atracam em portos nacionais. O preço único e por pessoa dos cruzeiros marítimos inclui hospedagem, alimentação, entretenimento e diversos atrativos.

Catorze transatlânticos com bandeiras estrangeiras estão fazendo a alegria de cruzeiristas brasileiros, que devem chegar a 500 mil na temporada 2008/2009, iniciada em novembro passado e que se estenderá até abril, segundo estimativa da Associação Brasileira de Representantes de Empresas Marítimas (Abremar). Esse número significa crescimento médio de 25% em comparação com a temporada anterior. Ao todo serão realizadas 235 viagens de cruzeiro de cabotagem ou doméstica no País, isto é, com embarque e desembarque na costa brasileira.

Empresas que comercializam viagens em navios e transatlânticos internacionais fixaram o câmbio do dólar abaixo da cotação atual para passageiros que fizeram reserva até novembro passado, e estão facilitando o pagamento da viagem em parcelas. Essa estratégia resultou em ocupação quase total (95%) dos navios no Natal e no réveillon, segundo dados da entidade.

Nesta temporada, os cruzeiros de cabotagem diversificaram roteiros e opções de entretenimento e lazer oferecidos aos passageiros. Há desde cruzeiros gastronômicos, passeios para solteiros, shows com cantores e bandas renomados, festas comandadas por DJs famosos, até a nova modalidade fitness, cujas atividades de ginástica e malhação a bordo são animadas por artistas e grupos famosos de TV. Roberto Carlos, Fábio Jr. e Zezé di Camargo & Luciano vão se apresentar em alguns navios.

Alguns transatlânticos vão atracar pela primeira vez na costa brasileira. É o caso dos navios de bandeira italiana MSC Música, da MSC; Costa Mediterrânea, da Costa Cruzeiros; Soberano, da Celebration; e Imperatriz, da CVC. Vinte e quatro destinos estão sendo visitados pelos cruzeiros de cabotagem na costa brasileira: Angra dos Reis, Belém, Búzios, Cabo Frio, Fernando de Noronha, Florianópolis, Fortaleza, Ilha de Jaguanum, Ilhabela, Ilhéus, Itajaí, Macapá, Maceió, Manaus, Natal, Paraty, Porto Belo, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, Santarém, Santos, Vitória e Ubatuba.

Mercado em crescimento

Nos últimos oito anos, os cruzeiros de cabotagem cresceram 623% no Brasil, de acordo com a Abremar. Significa dizer que o segmento teve expansão média de 33% ao ano, gerando, empregos e arrecadação de impostos para municípios, estados e União. Segundo a pesquisa Impacto dos Cruzeiros, realizada pela Fipe/USP em 2006 para a entidade, as escalas dos navios promovem incremento de até 40% na economia local dos destinos onde desembarcam os cruzeiristas.

“As empresas que fazem cruzeiros de cabotagem reforçam a marca Brasil ao colocarem seus navios em águas brasileiras, agregando credibilidade ao destino”, argumenta o presidente da Abremar, Eduardo Nascimento. Publicidade, sites e brochuras dessas empresas despertam a curiosidade de mais de 50 milhões de consumidores em todo o mundo, ao acessarem seus roteiros.

Apesar do crescimento dos cruzeiros de cabotagem nos últimos anos, o País ainda é bastante desconhecido dos grandes mercados consumidores como destino para esse tipo de viagem. O mercado norte-americano é o maior do mundo e conta com 14,6 milhões de usuários de cruzeiros. Países europeus ocupam o segundo lugar no ranking de consumo de roteiros marítimos, com cerca de 4 milhões de turistas.

Há mais de 50 anos, a região do Caribe é o destino mais visitado do mundo por cruzeiristas. A costa do Mediterrâneo é o mais consumido pelos europeus, no verão do hemisfério Norte. “Em ambos os casos, os roteiros se repetem e já não constituem novidade. Seus consumidores tendem a procurar novos destinos e novos navios”, explica o presidente da Abremar.

Gargalos

O Brasil possui posição geográfica favorável para captar o interesse dos armadores, especialmente a região Nordeste. Praias ensolaradas o ano todo, bons resorts, cultura e artesanato, entre outros aspectos, colocam o País em boas condições competitivas. O trabalho da Embratur e do Ministério do Turismo na divulgação da costa brasileira é forte, porém ainda são o suficiente para o segmento de cruzeiros marítimos, de acordo com Nascimento.

“Cruzeiristas internacionais são turistas exigentes”, avalia o presidente da Abremar. Além da falta de publicidade internacional sobre a costa brasileira, a ausência de infra-estrutura adequada e portos satisfatórios para o recebimento desses turistas são empecilhos para o desenvolvimento dos roteiros marítimos no País.

Na contramão da navegação de cabotagem, os cruzeiros internacionais de longo curso, que iniciam e concluem seus roteiros em portos estrangeiros, estão diminuindo sua presença na costa brasileira, segundo a Abremar. O fluxo dos maiores e mais luxuosos transatlânticos, que realizam esses roteiros, caiu de 218, na temporada 2004/2005, para 116, previstos para a temporada 2008/2009. Essa queda significa uma redução de 53%.

“A ausência de legislação transparente compromete o potencial turístico que o Brasil passou a representar, nos últimos anos, para os cruzeiros internacionais”, ressalta o presidente da Abremar. Cruzeiros internacionais com escalas em mais de um porto nacional são considerados como navegação de trânsito doméstico ou de cabotagem pelas autoridades brasileiras. Desse modo ficam sujeitos a cumprir exigências burocráticas e tributárias, que inviabilizam a operação dos cruzeiros internacionais no País.

“Aplicar o sistema tributário a um navio de passagem no Brasil, realizando cruzeiro internacional, convenhamos, é um apelo para que ele se afaste da nossa costa”, conclui Nascimento.

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