Quando alguém nos fala: tenho duas notícias pra contar, uma boa e outra ruim. Qual você quer ouvir primeiro? A grande maioria responde que quer ouvir a ruim antes. Reconhece-se que o ser humano tem uma tendência a dar mais atenção a informações negativas do que positivas. Já que ter consciência de informações negativas e presumivelmente ameaçadoras são mais relevantes à sobrevivência da espécie do que notícias boas, essa tendência a preferir as notícias ruins pode ser visto como um traço de adaptação da espécie. E o que dizer do incerto? Numa situação em que alguém nos diz: Tenho uma coisa pra te contar. Você quer ouvir? Poucos devem duvidar que a maioria nessa situação diria: conta logo! A incerteza é vista pela psicologia como a antecipação de uma ameaça pouco definida. Se a exposição a um estímulo negativo representa uma ameaça, a exposição ao desconhecido pode ser ainda mais ameaçadora, já que não se sabe o tamanho do inimigo (ou do amigo). Alguns estudos nos mostram que o suspense da incerteza gera mais ansiedade e suas alterações fisiológicas associadas do que o confronto a estímulos negativos bem definidos. Uma pesquisa recente publicada na revista Psychological Science aponta ainda que entre indivíduos com traço de personalidade neurótico, a resposta de ansiedade ao incerto é ainda mais marcante. Os autores, psicólogos da Universidade de Toronto, concluem de forma provocativa: "As pessoas, especialmente as com altos níveis de neuroticismo, preferem um capeta conhecido a um capeta que ainda não conhecem". Nota do Editor: Dr. Ricardo Teixeira é Doutor em Neurologia pela Unicamp. Atualmente, dirige o Instituto do Cérebro de Brasília (ICB) e dedica-se ao jornalismo científico. É também titular do Blog "ConsCiência no Dia-a-Dia" (consciencianodiaadia.com) e consultor do Grupo Athena.
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