Churrasquinho, pipoca, pastel, caldo de cana, tapioca, sanduíche de carne-louca, hot-dog prensado, yakissoba, acarajé etc. Todo esse cardápio tropicalizado faz parte da cultura brasileira de consumir comida barata, na rua. Porém, esse costume deve desaparecer na cidade de São Paulo, pois a prefeitura publicou uma portaria, no final do mês de agosto, proibindo o comércio de qualquer produto ou prestação de serviço com o uso de veículos nas ruas e avenidas da cidade. Segundo a prefeitura, apenas os vendedores de cachorro-quente e de refrigerantes que têm o Termo de Permissão de Uso (TPU) podem trabalhar vendendo seus produtos na rua. Quem desrespeitar a portaria vai sofrer a apreensão do veículo/mercadorias e pagar multa que varia de R$ 87,20 a R$ 436. As irregularidades na venda de alimentos ocorrem em todo o país, em barracas, em veículos e nos cestos das bicicletas. É comum dinheiro e comida serem manipulados ao mesmo tempo em mãos sem luvas ou a utilização de um mesmo pegador em vários tipos de alimentos. No geral, a armazenagem precária e a falta de higiene na manipulação dos alimentos podem originar doenças. Produtos frios que não são conservados a menos de 5º C e que ficam expostos por mais de 1 hora podem causar intoxicação alimentar. O que dizer do churrasquinho ou yakissoba consumido junto ao ponto de ônibus, confeccionados com carne bovina ou de frango "temperada" com cargas de poluição dos veículos? Pesquisas Pesquisa do Departamento de Tecnologia Química da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) revelou que cerca de 80% dos lanches vendidos por ambulantes estão contaminados com fungos, bolores ou bactérias que provocam, principalmente, infecções intestinais. O que mais estava contaminado? Sucos de frutas (30% das amostras), água de coco (60% das amostras), queijos vendidos em espetos (40% das amostras) e casquinhas de sorvete artesanal (80% das amostras). O Laboratório de Microbiologia do Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET-AM) realizou análises microbiológicas em alimentos provenientes do comércio da região central de Manaus. Os resultados indicaram que coliformes foram identificados em 36,6% das amostras analisadas, demonstrando, portanto, padrão insatisfatório para consumo. Trabalhos apresentados em recente Congresso Latino-Americano de Microbiologia e Higiene de Alimentos mostraram que foram considerados impróprios para consumo 40% dos acarajés, 96% dos vatapás e 83% das saladas analisados na cidade de Salvador. E na cidade de São Paulo? Doces de amendoim e de leite tiveram 50% de suas amostras reprovadas por contaminação e fragmentos de insetos. Negócios lucrativos Existe um ditado que diz: "Se não matar, engorda!"... Engorda principalmente o bolso do comerciante devido à alta lucratividade de vender alimentação na rua. Esse comércio funciona como alternativa econômica para a limitada oferta de trabalho. O ato de elaborar um alimento para vendê-lo talvez seja a forma mais primitiva que o homem inventou para defender-se da falta de recursos e conseguir sobreviver. Os alimentos vendidos por ambulantes são produtos prontos para consumo, preparados no próprio local de comercialização, que está situado em regiões de grande afluência de público. No Estado de São Paulo, são comercializados quase R$ 120 milhões em hot-dog. Existem cerca de 5 mil "dogueiros" trabalhando nas ruas da capital paulista. A média de vendas diárias de um dogueiro é de 60 lanches e 40 refrigerantes. O rendimento médio mensal de uma pessoa que vende cachorros-quentes na rua é de R$ 3 mil, englobando também os refrigerantes consumidos pelos fregueses. E quem nunca ouviu falar que ser pipoqueiro é a profissão mais lucrativa do mundo? Faça as contas, 25 gramas de grãos de milho para pipoca rendem 1 panela cheia, equivalente a 5 saquinhos. Em um mês, trabalhando 20 noites e estimando-se a venda de 50 unidades por noite e cobrando R$ 2 cada, chegamos a um total de 1.000 saquinhos de pipoca que geram uma receita de R$ 2 mil. E quem não aprecia um pastel? Por conta disso, são vendidos, em média, 200 unidades por feira. Multiplicando por 26 dias de trabalho temos 5.200 pastéis. Adotando o preço de R$ 2 a unidade atinge-se a receita mensal de R$ 10.400! Nota do Editor: Marcos Crivelaro é professor PhD da FIAP - Faculdade de Informática e Administração Paulista e da Faculdade Módulo, especialista em matemática financeira e consultor em finanças. Autor do livro "Como sair do vermelho e tornar-se um investidor de sucesso" (www.edufinanceira.com.br).
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