Pegue um robalo dos grandes, desses que usam recursos que ninguém imagina e sempre escapam nas primeiras fisgadas. Nós temos 48 chances de pegar o bicho. Cuidado ao abrir o robalo, não abra pela barriga porque está sempre cheia, é melhor pela cabeça, tome muito cuidado que o robalo não morre fácil, e tem a maior facilidade de dar umas mordidas além da conta.Tente na primeira, dê chance na segunda, mas não se arrisque na terceira. Fique vigiando o robalo enquanto prepara a segunda parte do prato, a panelada dos furtos, desculpe, frutos do mar. Essa parte da receita é nova em Ubatuba, tem uma aparência muito colorida que muita gente não gosta, tome cuidado ao separar os frutos do mar, normalmente percebemos que eles estão estragados só depois de engolidos. Use bastante o polvo e faça muito barulho quando bater nele, senão o polvo não amolece. Cuidado, barulho demais endurece o polvo. Use camarão de fora, porque os que vivem nas costas de Ubatuba é tudo comida do robalo. Use mexilhão da quitanda do japonês perto do aeroporto, aquela que tem um pára-quedas abandonado no telhado. Não use lula, em Ubatuba ela anda diferente e a cotação está subindo muito, da outra vez ela quase estragou o robalo e com certeza, vai estragar esse prato com furtos, desculpe, frutos do mar. Vai precisar de cinco panelas para cozinhar, você pode usar uma panela com cinco partes também, não precisa se preocupar com a misturada dos furtos, desculpe, frutos do mar é tudo a mesma coisa, dizem até que o gosto é igualzinho ao do robalo. Tem um pessoal que já experimentou o robalo sozinho por duas vezes, e insiste em experimentar mais uma vez, são sempre os mesmos. Não adianta discutir, negócio deles é robalo mesmo. Outros queriam a novidade dos furtos, desculpe, frutos do mar, achando que era diferente, mas já começaram a mudar de idéia. Para evitar confusão você pode colocar tudo na mesma panela, eles se misturam com facilidade e o gosto é exatamente o mesmo. Difícil mesmo é engolir isso tudo, mas a digestão, garanto que é pior.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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