Carlos Rizzo | |
Se correr... dançou. A fotografia gravou bem a situação da maria-faceira; quando ela percebeu que não escaparia durante o vôo, tratou de pousar. Ave pousada dificulta a ação do gavião, restou ao predador pousar ao lado e aguardar um novo vôo. Em pleno ar o gavião é arrebatador. Nada tirou a maria-faceira dali, nem mesmo depois que o gavião se cansou e foi embora. Certa vez, no Cais do Porto, ouvi a matraca de um martim-pescador. Logo ele apareceu voando bem rente ao mar, acima dele, um nervoso caracará vendo sua presa escapar sem poder dar o seu bote final. Certas espécies constroem seus ninhos próximos ao ninho dos gaviões, logo abaixo, bem perto do perigo, em lugar que o gavião não consegue atacar e nenhum outro predador ousa se aproximar. Outro dia, chegando em casa, estranhei a total ausência das andorinhas nos fios de eletricidade, parei o carro e vi que estavam todas, estranhamente, escondidas nas árvores. Logo descobri o motivo: um falcão sobrevoava a área. Os falcões são verdadeiras máquinas de caçar! Ele sobrevoou tranqüilamente sobre as copas das árvores. Uma, duas voltas e, de repente, simulou um bote sobre uma das árvores, o movimento repentino assustou a passarinhada que estava escondida e saiu em debandada. O falcão escolheu e atacou certeiro. Com sua presa nas garras, voou até um galho seguro para saborear o seu almoço. O velho ditado muda de sentido: “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho não come”. Aquela maria-faceira sabia disso.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
|