| Cleo Velleda | | | | Chácara Santa Isabel, em Indaiatuba: caqui, uva, doces em compota e vinho. |
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Mesa completa com arroz-doce, bolo de banana ou de fubá, café, canjica, doces caseiros, batata-doce, mandioca, queijo fresco e sucos de frutas da época. Dona Filomena, como uma boa e tradicional avó, insiste para que se experimente pelo menos um pouco de cada gostosura. O café é servido na cozinha, ao lado do fogão a lenha, na casa da fazenda Bosque dos Eucaliptos, em Vinhedo, uma das nove cidades do Pólo Turístico Circuito das Frutas, lançado pela Secretaria da Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento e Turismo, no mês passado. O evento tem atrativos como roteiros por fazendas produtoras de frutas e seus derivados e visitas aos pontos de comercialização de artesanato. Além de Vinhedo, participam as cidades de Indaiatuba, Itatiba, Itupeva, Jarinu, Jundiaí, Louveira, Morungaba e Valinhos. Os produtores se adaptaram rapidamente à nova oportunidade. Dona Filomena e sua filha Rosana estão reformando o sítio para recepcionar os turistas. Mas nem precisava. O capricho é tanto que Rosana, na véspera do evento, colhe cana-de-açúcar, descasca, corta em pedaços e coloca na geladeira durante a noite "para ficar fresquinha". Antes da caminhada pela fazenda, em trechos de Mata Atlântica, recebem uma cesta com pedaços de cana. "Quero que os meus visitantes não se cansem para conhecer toda a propriedade, por isso ofereço a glicose. E ainda serve como adubo orgânico, pois o pessoal vai comendo e jogando os bagaços pela terra." Outra atração do Bosque dos Eucaliptos, bastante procurada pelos idosos é o passeio de trole - carruagem rústica, utilizada nas fazendas e nas cidades do interior antes da invenção do automóvel. Para cada pessoa há uma opção de passeio organizado pelas proprietárias. "A gente está com muita sorte. Todos que vieram até agora são superlegais. Não sei o que acontece, mas até parece que nos conhecíamos há muito tempo, como se fossem da família", comemora Filomena. Não é diferente na Adega Beraldo di Calle, em Jundiaí, onde são produzidas variedades de vinhos. Solange, filha de Ludovico, confidencia que o pai gosta que as pessoas degustem um pouco de cada tipo da bebida. E o "pouco" é bem generoso: quase uma taça cheia. Além dessa produção artesanal, há plantação de uva, tangerina tipo poncã e caqui. Os visitantes podem colher as frutas no pé. "Não conseguiríamos divulgar nossa adega se não fosse o Circuito das Frutas. É uma excelente oportunidade para quem tem pequenas propriedades rurais como nós. Gosto quando as pessoas chegam aqui com tempo para conversar porque, assim, podemos conhecer um pouco delas", diz Solange. Trilhas na Mata Atlântica - Ainda em Jundiaí, outra boa opção de passeio é a Fazenda Nossa Senhora da Conceição, com turismo rural e pedagógico. É remanescente do ciclo do café, que pertenceu ao Barão de Serra Negra, e conserva a Mata Atlântica com trilhas, lagos, construções históricas, como capela, senzalas, tulha, casa sede, colônia de imigrantes italianos, museu do café e terreiros. Além disso, há piscina, campo de futebol, restaurante, hospedaria rural e empório. O restaurante funciona na antiga tulha (espécie de celeiro para guardar colheitas), onde é possível observar o maquinário que era utilizado para beneficiamento do café. O cheiro do fruto sendo torrado e preparado na hora é indescritível. Os visitantes podem comprá-lo torrado na hora. Antônio Ferreira Sestini, dono do local, conta que, depois da criação do Circuito das Frutas, há expectativa de receber mais turistas, especialmente grupos de alunos, terceira idade e estrangeiros. Existe até a possibilidade de realizar casamentos na antiga capela da propriedade. Sestini aguarda, também, famílias que estejam conhecendo a região nos finais de semana. Um excelente passeio é o Sítio Kusakariba, que tem produção de goiaba, pêra e cerigüela, em Valinhos. Teruo Kusakariba, o proprietário, mostra como é a produção da pêra. O processo, totalmente artesanal, exige toda a técnica e paciência de Teruo, que faz manualmente a polinização das flores de cerca de 400 pés da fruta. Ali mesmo são vendidos doces, compotas e geléias. É uma forma de aproveitar frutas com pequenas imperfeições que não teriam qualidade para comercialização. "Daí a pessoa vai comprar a fruta e acha caro porque não sabe o trabalho que dá. Agora, quando for comer uma pêra do sítio vou saboreá-la com mais prazer. Achei maravilhoso porque revivi momentos importantes da minha infância aqui em Valinhos", disse Anair Spanholeto Conte, 64 anos, que visitava o Sítio Kusakariba. "Daqui para frente vai ser melhor porque receberemos mais turistas", comemora Shigueru Kusakariba, 79 anos, pai de Teruo. O filho também acredita que o circuito trará ótimos resultados: "Legal que as pessoas fiquem sabendo como é o nosso trabalho e valorizem nossos produtos. Para nós é ótimo porque os comercializamos processados, com valor agregado. Antes do agroturismo, não fazíamos nem doces. Agora até compro frutas de outras propriedades". Produção artesanal - Em Indaiatuba a Chácara Santa Isabel exibe plantações de caqui e uva e é possível experimentar vários tipos de vinhos produzidos no próprio local. Já no Sítio dos Córregos, em Itatiba, o turista pode conhecer a produção de cítricos, assim como comprar doces e geléias. Além do café da manhã típico da fazenda (que deve ser agendado antecipadamente), é possível apreciar um orquidário com mais de 110 mil mudas e aprender como se cultiva o cogumelo shitake. Uma maritaca que vive nos arredores voa acompanhando os visitantes durante o passeio. Em Itupeva, no Apiário Santa Emília, o turista tem a possibilidade de saborear o mel diretamente do favo. O apicultor Ademir Vanini explica todo o processo de produção e lista seus benefícios à saúde. Com uma produção de aproximadamente sete toneladas por mês, o apiário mantém clientela fiel há mais de 20 anos. As abelhas de diversas espécies estão por toda a parte. Ao redor da casa e da loja, elas trabalham produzindo mel. No Alambique Ferrara, em Jarinu, a fabricação também é artesanal. Todos acompanham o processo de manufatura da cachaça, que não utiliza produto químico. Depois do corte, a cana-de-açúcar é lavada e moída, resultando na garapa, que será fermentada, em média, 24 horas. O bagaço da cana que sai da moagem é queimado na caldeira para aquecer a água e transformá-la em vapor, servindo como fonte de energia para o funcionamento do engenho, movido como a locomotiva de um trem. O alambique fica no Sítio São Pedro, que criou a Casa da Vovó para comercializar doces, licores, lingüiças, queijos, manteiga, requeijão, mel, melado, ovo caipira, suco de uva e a cachaça produzida na propriedade. Para quem gosta de aventura, o Sítio A Montanha, em Morungaba, oferece passeio a cavalo, tirolesa para crianças e trilha na mata. Muito visitado por escolas, oferece opções de passeios variadas, além de almoço típico da fazenda servido no local. Em Louveira, na Fazenda Luís Gonzaga, a cachaça é fabricada artesanalmente, assim como licores, doces, geléias, compotas e mel. "Meu marido vende todas as frutas grandes. Antes, as pequenas eram enterradas para evitar pragas. Todos os meus vizinhos jogavam um monte no lixo", conta Dalva Anna Martins, 70 anos, que cuida da preparação dos doces. "O Circuito das Frutas foi a melhor coisa que criaram para acabar com o desperdício", comemora. Novo conceito de turismo Este é o segundo circuito reconhecido pelo Estado. O primeiro foi o Roteiro dos Bandeirantes, que abrange as cidades de Santana do Parnaíba, Pirapora do Bom Jesus, Araçariguama, Cabreúva, Salto, Itu, Porto Feliz e Tietê. A região faz parte da história paulista e brasileira, e foi o caminho percorrido pelos bandeirantes paulistas em suas expedições. A parceria entre a secretaria e os municípios pretende estimular o turismo e gerar emprego e renda para diferentes municípios. "O novo modelo de desenvolvimento estabelecido pelo governo do Estado de São Paulo transformará o conceito de turismo em todo o País. Estamos cuidando para que ele tome novos rumos e comece a ser encarado como fonte de geração de trabalho e renda", declarou João Carlos Meirelles, secretário de Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo. Informações sobre as opções turísticas do Circuito das Frutas Jundiaí Centro de Informação Turística - Avenida Jundiaí, s/no - Tel. (0**11) 4521-9644 Comtur - Tel. (0**11) 4589-8550 Jarinu Prefeitura de Jarinu - Tel. (0**11) 4016-8200 Comtur - Tel. (0**11) 4016-4611 Morungaba Seta Turismo - Tels. (0**11) 4586-8567 ou (0**11) 4586-9026 Itatiba Secretaria de Cultura, Esportes e Turismo - Tel. (0**11) 4538-0917 Seta Turismo - Tels. (0**11) 4586-8567 e (0**11) 4586-9026 Vinhedo Recepção Turística - Estrada da Boiada s/no - Portal dos Imigrantes - Tel. (0**19) 3876-2600 Valinhos Visitas agendadas pelos telefones (0**19) 3869-7064 e (0**19) 3849-7790 Seta Turismo - Tels. (0**11) 4586-8567 ou (0**11) 4586-9026 Indaiatuba Seta Turismo - Tels. (0**11) 4586-8567 e (0**11) 4586-9026 Itupeva Seta Turismo - Tels. (0**11) 4586-8567 e (0**11) 4586-9026 Louveira Centro de Informação Turística de Louveira - Rodovia Anhangüera, km 72 - Tel. (0**19) 3878-4222
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