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Arquitetura e Engenharia
21/07/2008 - 06h12
A arquitetura do medo
Stela Gervini Pereira
 

Joinville tem assistido diariamente ao aumento da violência, com acréscimo no número de assassinatos e assaltos, tanto no Centro quanto nas regiões periféricas. Tal fenômeno está se refletindo numa área que, até há algum tempo, pouco tinha a ver com segurança pública: a arquitetura. Os profissionais da área têm sentido uma modificação na maneira de pensar dos clientes: assim como beleza e funcionalidade, a segurança passou a ser item corriqueiro - e essencial - em projetos arquitetônicos. E tal efeito se deve a um sentimento de temor da criminalidade que leva as pessoas a se prender em suas casas. E os profissionais, acostumados a pensar criativamente, estão se vendo obrigados a prestar atenção em um novo nicho: a arquitetura do medo.

A primeira coisa que um arquiteto pergunta a seu cliente é como ele imagina a nova casa. A resposta é invariável: "Segura!". Muitas vezes, os espaços possibilitam exercícios de criação, como a instalação de decks, vãos, terraços e grandes aberturas. Porém, a questão da segurança é a prioridade absoluta do cliente. Os projetos precisam ser modulares e devem permitir grades, muros e guaritas, coisas que podem descaracterizar o estilo da construção.

Existem algumas ferramentas úteis para resolver, em termos, o problema. O paisagismo, por exemplo, permite criações variadas, mas sempre com a limitação de não poder posicionar grandes árvores ao lado de muros e cercas, pois isso facilita a invasão da propriedade. A iluminação é um grande instrumento de segurança: todo ambiente com sombra é um esconderijo. Por isso, balizamento de luzes na entrada do carro e sensores que acendem as luzes com movimento são interessantes. O uso do vidro também é indicado, pois permite boa visibilidade. Mas vidro blindado, é claro. A tecnologia oferece boas soluções em segurança, com sensores de movimento, câmeras e alarmes. E o investimento é viável: a instalação de dispositivos aumenta o custo da obra em aproximadamente 5%.

O medo generalizado fez com que a arquitetura se baseasse cada vez mais no modelo de construção medieval, que remete a castelos e fortalezas. O lazer está restrito a quatro paredes. Algumas pessoas já mantêm pistas de dança e cinemas com pipoqueira dentro de casa, para não colocar o pé na rua. Daí surge um novo desafio para o arquiteto: como evitar que a convivência das famílias seja afetada pelo "encastelamento"? É aí que os arquitetos criam espaços de convivência dentro de casa, que diminuem o efeito do medo e tranqüilizam as famílias.

Falando em tranqüilidade, uma dúvida é pertinente: essa sensação de alívio, de que a casa é um porto seguro no meio de um grande inferno, é verdadeira? Se a resposta for sim, o caminho da civilização é mesmo o de cada vez mais se "encastelar", abandonando a convivência social em prol de uma segurança psicológica? A arquitetura tem trabalhado para amenizar os efeitos, criando externamente um ambiente aprazível e menos vulnerável à criminalidade.


Nota do Editor: Stela Gervini Pereira é sócia-proprietária da Spazio Arquitetura, em Joinville (SC).

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