Madeira, barro, conchinhas do mar, escamas de peixe, areia colorida, bordados, tintas, colas, ferramentas cortantes. A matéria-prima, os insumos e a criatividade inata usados na produção de peças em artesanato são indispensáveis para que o artista crie produtos ímpares para serem consumidos pelo mercado. Mais que um souvenir, o artesanato produzido no Brasil é agora um aliado do setor do turismo e atrai a atenção dos visitantes de Norte a Sul do País. Um divisor de águas para quem passou quase a vida toda trabalhando e vivendo do trabalho que confecciona com as mãos. É o que acontece com a artesã Cristina Maria Ribeiro Lauteman, que há 23 anos trabalha produzindo peças decorativas feitas com conchinhas de praia, búzios e escamas de peixe. Ela é uma das artistas que está produzindo peças no espaço Vitrine Brasil, no 3º Salão do Turismo, que acontece até domingo (22) no Parque Anhembi em São Paulo. Nesse espaço, além da venda de artesanato específico de cada estado, os artesãos se revezam para produzir in loco suas peças e mostrar para os visitantes do Salão do Turismo como é feito cada um desses produtos. A história de Cristina, por exemplo, começou quando ela foi morar em frente à praia, na cidade de Anchieta, no Espírito Santo. Ela conta que já gostava de artesanato e brincava de fazer algumas peças com as conchinhas que achava na areia e com pedaços de madeira. "Um dia, achei uma concha na praia de cor rosa e criei uma flor. A partir dali não parei mais de produzir", diz. Suas peças chamaram tanta atenção que um programa de TV fez uma entrevista com ela, mostrou sua produção, gerando uma demanda de 400 dúzias de flores feitas com conchinhas coloridas. "Uma loucura. Nunca produzimos tanto. Depois disso, participamos de muitas feiras e eventos, inclusive internacionais, para divulgar nosso produto. Hoje vivo e crio minha filha de 11 anos exclusivamente com o artesanato que produzo", conta Cristina. Com essa produção, Cristina consegue obter por mês uma renda que gira em torno de R$ 3,5 mil. Além de vender para outros estados, a artesã já exportou e também dá cursos. O mesmo acontece com o artesão José de Santana, presidente da Cooperativa de Produtores Artesanal do Potiguar (Doopape), de São Gonçalo do Amarante, a 16 quilômetros de Natal no Rio Grande do Norte. O trabalho de José de Santana é transformar o barro em peças utilitárias e decorativas de cerâmica. O trabalho com a cerâmica começou paralelo ao trabalho como ajudante na roça, preparando a terra para plantação das mais diversas culturas. Como a atividade terminava cedo, José conta que, no período da tarde, ele ajudava seu patrão no preparo da argila que era utilizada na olaria de produção de tijolos. "Aos poucos fui me desvencilhando e, em pouco tempo, ajudei a montar e a administrar a cooperativa", conta. A Coopape possui hoje 45 membros, mas apenas 15 são atuantes. Com o apoio que recebe do Governo do Estado e do Sebrae/RN, o artesão consegue participar de feiras e eventos em todo o País para mostrar as peças produzidas pela cooperativa. "Gosto de inovar. Corro atrás de coisas novas para agregar valor ao meu produto. Já me mudei para o prédio da cooperativa e me dedico inteiramente a ela. Daqui a alguns anos o emprego formal vai acabar. O cooperativismo é a solução para esses casos", acredita. José de Santana explicou que de 50% a 60% do valor dos produtos feitos pela cooperativa vão para os empreendedores. O restante é investido na compra de matéria-prima, insumos e na manutenção da cooperativa. “É assim que funciona. O problema é que é difícil enraizar o sentimento de cooperativismo nas pessoas. Por isso, muitas desistem e acabam seguindo sozinhas". Segundo ele, a cooperativa chega a arrecadar em torno de R$ 8 mil com as peças vendidas, mas a capacidade produtiva poderia ser maior, chegando a vender até R$ 30 mil. "Uma iniciativa como esta do Salão do Turismo é muito importante para mostrar nosso trabalho para um público do País inteiro", ressalta.
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