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COLUNISTA
Carlos Rizzo
16/06/2008 - 10h06
Pássaros do tempo II
 
 
 
Itamambuca Eco Resort 
  Biguá.

Antes quero deixar claro que considero extremamente salutar essa discussão em torno do cormorão biguá, e também que já disse e reitero o meu respeito e consideração pelo Toninho Epifânio. Tenho a certeza que é justamente a tradição com o mar e a dedicação à pesca comercial que impuseram ao Toninho, durante anos, a ilusão de que não ocorria o cormorão biguá em Ubatuba.

Tenho registros de ornitólogos sobre a ocorrência do em Ubatuba desde 1974, o fato de não serem vistos não tem nada a ver com a sua propalada ausência. Por coincidência, dia desses recebi o relato de um ex-morador da Ilha dos Pescadores dizendo que na sua infância (1980) ficava admirando a capacidade de mergulho dos biguás.

A ocorrência e os limites territoriais e quantitativos das aves são dados pela oferta de alimentos. O bom senso indica que, se o cormorão era pouco avistado antigamente era por causa da baixa oferta de alimentos, e, se hoje ocorre em abundância, ocorre justamente pela expressiva oferta de alimentos.

O próprio Toninho Epifânio pode nos dizer se naquela época se jogava no rio tanta limpeza de peixes e camarões como se joga hoje em dia. Se naquela época havia tantos pescadores como podemos encontrar hoje.

Se antigamente podíamos viver num ambiente íntegro e havia poucos biguás e hoje, com toda degradação do ambiente constatamos a abundância deles, pode-se concluir que o biguá encontra mais alimentos em ambientes pouco saudáveis.

As aves ou qualquer outro tipo animal, inclusive insetos, não infestam em abundância um ambiente que não tem alimentos em abundância.

Para confirmar, basta visitar os rios do lado norte onde ainda encontramos ambientes saudáveis e baixa ocorrência dos biguás, ou então lembrar que em Caraguatatuba a desembocadura do rio Santo Antônio é o paraíso dessas aves há muito tempo, aliás, por coincidência, outro rio nada limpo.

O cormorão é a conseqüência e não a causa do fim dos peixes citados. Imaginá-lo como culpado pela degradação do ambiente é querer tapar o sol com uma peneira, sem ao menos ter a tal peneira às mãos. Nós, seres humanos, é que somos os verdadeiros culpados pela abundância dos biguás, pela ausência do “tubá” ou atobá e o fim de muitas outras espécies que estão se extinguindo sem que possamos conhecê-las.

Vou continuar dizendo e insistindo que o homem é o culpado. Concordo com o Toninho quando diz que isso é repetitivo e que não resolve. Não resolve justamente pela teimosia e obstinação econômica dos poucos que insistem em nunca ouvir o que a natureza tem a dizer. É esta minoria que insiste em se eximir da culpa que nos impõe um futuro nada agradável, inclusive com o risco do fim da vida “inteligente” sobre a face da Terra.

Toninho, se você insiste em suas conclusões me responda: os lances de milhares de tainhas acabaram antes ou depois do biguá “chegar”? A imposição do defeso do camarão foi antes ou depois? Na sua opinião as toneladas de limpeza dos pescados não alteram em nada o ambiente do rio? Será que temos de esperar algum e-mail de algum amboré pedindo ajuda ou juntos somos capazes de construir um futuro melhor?

A atual abundância dos biguás é a colheita dos nossos erros no passado. Toninho, pense bem no que estamos plantando para os nossos filhos, netos... Se bem que no nosso caso seja para os nossos netos e bisnetos, pois nossos filhos já sofrem as conseqüências dos nossos erros.

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