Empresas de pequeno ou grande porte costumam estabelecer perfis dos profissionais que pretendem contratar. Para isso, existem métodos quase científicos de traçar o perfil do candidato e sua adequação ao perfil necessário. Tudo isso é simples, se considerarmos que a empresa tem a liberdade e o poder de contratar ou não, de manter e adequar ou de simplesmente nem considerar aquele candidato. Quando se trata de escolher o melhor candidato para um cargo eletivo, a soma dos votos é o que determina o candidato escolhido. Do anseio popular somos meros eleitores na manifestação da nossa vontade particular, somos meros espectadores e, o mais difícil é nos recolher na relativa insignificância que é o nosso único voto. Reclamamos o tempo todo que os políticos só se lembram da gente quando se aproximam as eleições, quando na verdade somos nós que nos esquecemos dos políticos durante todo o mandato que delegamos a eles. Depois da eleição, parece que o dever está cumprido e nos recolhemos cada um no seu mundinho, deixando os políticos totalmente à vontade, esquecendo que o voto é um mútuo compromisso de quatro anos. Na eleição, estamos constituindo um trabalhador e não devemos virar as costas depois do contrato celebrado. Do mesmo jeito que fazemos na nossa vida particular, temos que orientar e fiscalizar o trabalhador que contratamos. Ninguém contrata uma empregada doméstica na calçada, manda-a entrar na casa, virando as costas com a certeza que ela irá fazer todos os serviços. Não fazemos isso com a nossa casa, mas fazemos isso com o nosso município. Tanto isso é verdade que se analisarmos friamente as campanhas dos candidatos mais barulhentos, podemos notar um certo messianismo no discurso. Um perigoso perfil de salvadores da pátria. É normal um candidato em campanha de reeleição multiplicar ou até exponenciar as obras que realizou, e o nosso não tem feito diferente. Infelizmente é normal também, um candidato de oposição multiplicar a sua capacidade de fazer obras, seja exibindo uma parede de diplomas e títulos de PHD ou, sair por aí prometendo obras como se fosse a multiplicação dos pães. Não gosto muito quando uma pessoa para se dizer capaz, fica expondo os diplomas que possui, acho que além de não dizer nada é muito perigoso. O Bush tem um monte de diplomas e deve entrar para a história por causa da guerra do Iraque. Abraão Lincoln era um lenhador e entrou para história como o construtor de uma nação. Trazendo para Ubatuba na sua história recente, um professor com título no exterior, é lembrado por uma administração rançosa e vingativa e todos nós, sem saber quais os títulos que possuía, nos lembramos com carinho do prefeito Ciccilo Matarazzo pela capacidade de aglutinar valores humanos e construir uma cidade. Para mim diplomas e instrução são valores totalmente dissociados e talvez por isso que quando alguém levanta o diploma sempre me lembro das carteiradas do jargão "ocê sabe cum quem ta falano?" que muitos diplomados ainda gostam de usar. Esse ranço autoritário se manifesta na ironia que o atual prefeito manifesta perante as críticas que recebe e na prepotência do candidato Já Ganhou. Aliás, pelas amizades que cultiva e o número de obras que promete por minuto, o candidato Já Ganhou está muito mais para um clone do Collor do que para um seguidor de Juscelino.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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