A cada dia o desenvolvimento científico e tecnológico ganha mais importância na pauta de discussões do Brasil. Cinco meses após o lançamento do PAC da Inovação - programa federal que prevê um aporte de R$41 bilhões no setor até 2010 - o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) anuncia a intenção do governo de atingir, em três anos, o investimento de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Se alcançar essa meta, a atual gestão será responsável por um incremento de mais de 50% na parcela do PIB dedicada a P&D, que hoje é de 0,97%. Mais do que isso, essa iniciativa deve melhorar a posição do País entre os que mais investem em Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I) no mundo. De acordo com um levantamento feito pelo MCT, que selecionou 28 países e os classificou de acordo com a porcentagem de PIB investido em P&D, o Brasil ocupa apenas a 17ª posição, com seus 0,97% de investimento, ficando atrás da China (1,34%) e da Rússia (1,07%), por exemplo. Se o País investisse hoje o 1,5% previsto para daqui a três anos, estaria na frente dessas duas potências, ocupando a 13ª posição. O ranking é liderado pela Suécia (3,89%) seguida por Finlândia (3,48%) e Japão (3,33%). Os esforços do governo federal em busca do desenvolvimento científico e tecnológico são fundamentais na medida em que o Brasil possui claras pretensões de assumir um papel de liderança global. Sem o desenvolvimento desses setores, qualquer país se limitará a ser um simples coadjuvante nas relações internacionais. Todos sabem das extensas vantagens atuais que o Brasil leva em relação à grande maioria das outras nações. Temos uma safra talentosa de profissionais nas mais distintas áreas, como na medicina; somos um país grande e rico em biodiversidade; e somos a potência agrícola com maior capacidade de crescimento no mundo. Essas características somadas a um ambiente de Ciência e Tecnologia mais favorável certamente nos garantirão um futuro promissor. As bases para a construção desse arcabouço científico e tecnológico necessário ao desenvolvimento do País já estão sendo levantadas. Um bom exemplo é a criação do Centro de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), que consumirá R$ 150 milhões do MCT, em cinco anos. Esse projeto nos permitirá assumir a dianteira do setor de biocombustíveis no mundo. Outras duas iniciativas recentes que merecem destaque são a criação do Centro de Pesquisas, Inovação e Desenvolvimento (CPID), em Cariacica, no Espírito Santo, e um incremento de R$ 81,3 milhões em projetos e pesquisas de instituições do Paraná. Se por um lado o País reúne esforços para melhor estruturar a área de C&T, por outro os indicadores da evolução da base acadêmica nacional também são bastante promissores. Entre 1981 e 2006, o aumento da presença de artigos científicos brasileiros em publicações internacionais deu-se a uma taxa média de cerca de 9% ao ano, enquanto a expansão anual no mundo foi de 3%. Já a elevação acumulada no período foi de 796% no Brasil, contra a média de 103% no resto do planeta. Com isso, a parcela do conteúdo científico mundial produzida por brasileiros saltou de 0,44% para 1,92% nos últimos 25 anos. Esse aumento significativo da presença de artigos brasileiros nas publicações internacionais se explica, em grande parte, pelo maior acesso à informação científica de qualidade, proporcionado por órgãos como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação (Capes/MEC). O crescimento muito rápido da oferta de recursos humanos qualificados em P&D é outro ponto que merece evidência. Durante os últimos dez anos, por exemplo, a quantidade de brasileiros que receberam títulos de mestre e de doutor tem crescido a uma taxa de aproximadamente 13% ao ano. Em 2006, foram titulados quase 10 mil doutores, e acredita-se que possamos alcançar a titulação de 16 mil em 2010. O capital intelectual da Ciência e Tecnologia no Brasil sempre foi excepcionalmente qualificado. Agora o País começa a oferecer infra-estrutura para permitir que toda essa inteligência permaneça em seu território. Apostar no aumento da relação PIB/Investimento em C&T num momento de prosperidade econômica é sinal de que os alicerces do setor definitivamente serão construídos. As obras estão prestes a iniciar e os futuros inquilinos aguardam pela mudança. Desta vez, dificilmente o Brasil perderá a oportunidade de levantar um dos prédios mais altos de ciência e tecnologia do mundo. Nota do Editor: Dante Cid é diretor para a América Latina da editora de conteúdo científico Elsevier.
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