O Ministério da Saúde quer saber se a população brasileira está consumindo quantidade suficiente de iodo. A substância é adicionada ao sal, desde a década de 50, para favorecer o bom funcionamento da glândula tireóide e evitar doenças associadas à falta do iodo no organismo, como o bócio (papo que pode dificultar a respiração) e o cretinismo (que provoca retardo mental irreversível). Para isso, cerca de 20 mil crianças e adolescentes de 9 a 14 anos, de mais de 800 escolas de todo o país vão participar da Pesquisa Nacional para Avaliação do Impacto da Iodação do Sal (Pnaisal) iniciada dia 31/03 no Rio Grande do Sul. Elas serão submetidas a exames de urina que permitem medir o nível de consumo do iodo. A investigação, que vai durar 11 meses para cobrir todos os estados do país, será conduzida pela Universidade Federal de Pelotas (RS) responsável pela seleção das crianças e pela coleta do material que depois será analisado pelo Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo. De acordo com Ana Vasconcellos, coordenadora-geral de Política de Alimentação e Nutrição (CGPAN) do Ministério da Saúde, a iodação do sal, recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), exige um monitoramento permanente, tanto do teor adicionado ao produto, que é feito pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), como do impacto na saúde da população, que será avaliado pela pesquisa. "Vamos poder saber se temos o consumo ideal, se estamos fora dele e se precisamos mexer na quantidade de iodo que é adicionada ao sal", informou. Hoje a legislação brasileira obriga a adição de 20 a 60 gramas de iodo por quilo de sal para que o produto possa ser comercializado no país e, segundo ela, não têm havido problemas no cumprimento da regra. Ana Vasconcellos explicou que, o teor exigido pelo governo já chegou a 100 gramas por quilo mas vem sendo reduzido gradualmente à medida que foram sendo alcançadas reduções nos distúrbios por deficiência de iodo. De acordo com a coordenadora, em 1955 o bócio atingia 20,7% da população. Na década de 90, depois de 40 anos de iodação do sal, a incidência da doença caiu para cerca de 2% no país. Para ela, os resultados positivos foram alcançados graças à aprimoração dos processos industriais que hoje permitem maior eficiência e precisão na adição do iodo ao sal e também das ações de fiscalização. A OMS recomenda o consumo de 5 gramas de sal por pessoa ao dia, o equivalente a uma colher de chá, para garantir ao organismo o iodo suficiente à síntese de hormônios da glândula tireóide. O produto foi escolhido universalmente para receber o iodo por causa do seu baixo custo e fácil acesso por parte de toda a população. Além do sal iodado, a substância também pode ser encontrada naturalmente em frutos do mar e em produtos como ovos, leite e derivados desde que gerados a partir de animais com alimentação rica em iodo. De acordo com ela, a adição do iodo no sal tem baixo custo para as empresas e não chega a gerar impacto significativo no preço final do produto. O resultado da pesquisa iniciada será divulgado no final do ano que vem. Pesquisas semelhantes para o monitoramento da iodação do sal na saúde da população já foram realizadas pelo Ministério da Saúde nas décadas de 50, 70 e 90. Se confirmados os resultados obtidos no último levantamento, o órgão espera receber da OMS o certificado de país livre de doenças causadas pela deficiência de iodo, que ainda não foi fornecido por falta de avaliações mais recentes. Alguns riscos ligados ao consumo excessivo de iodo, como tireiodites, chegaram a ser levantados por pesquisadores, mas segundo a coordenadora do Ministério da Saúde ainda não foram confirmados.
|