Na primeira metade do século 21, enquanto a população idosa aumentará a taxas altas, entre 2% e 4% ao ano, a população jovem tenderá a decrescer. As pessoas com mais de 65 anos de idade, que eram 3% em 1970, corresponderão, em 2050, a cerca de 19% da população brasileira. A transição etária da população deverá gerar oportunidades e desafios que, se não forem enfrentados com a implantação, por exemplo, de políticas públicas focadas nesse novo padrão demográfico, poderão ocasionar problemas para o país nas próximas décadas. Os números e conclusões são de um estudo feito no Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e publicado nos Cadernos de Saúde Pública, que analisa a provável trajetória da estrutura etária dos brasileiros, dando ênfase especial ao rápido envelhecimento populacional. O trabalho teve como base estimativas da Divisão de População da Organização das Nações Unidas (ONU) e de pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As projeções foram obtidas a partir da variação do tamanho da população e de sua distribuição por idade, considerando três componentes demográficos: fecundidade, mortalidade e migração. Os autores sugerem que, com o ritmo diferenciado do crescimento da população nos diversos grupos etários, o Brasil estaria, em termos demográficos, frente a uma "janela de oportunidades". "A menor proporção de crianças e jovens até 2050 possibilitaria, teoricamente, um maior retorno dos investimentos públicos e privados em áreas como educação", disse o coordenador do estudo, José Alberto Magno de Carvalho, professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, à Agência FAPESP. "Até o fim da década de 1960, a população em idade escolar cresceu em torno de 3% ao ano. Hoje, essa geração de jovens praticamente não aumenta e chega até a ser marcada por anos de decréscimo, devido ao forte declínio das taxas de fecundidade no Brasil desde então", explicou. Segundo Carvalho, do ponto de vista educacional os dados mostram que, até a década de 1960, era necessário aumentar, no mínimo, em 3% os investimentos em educação para manter a mesma cobertura de ensino do ano anterior, acompanhando as taxas de crescimento anual da população em idade escolar. Reformas futuras "Como hoje essa geração está estagnada, trata-se de uma grande oportunidade para a criação de novas políticas educacionais, sobretudo nos níveis de ensino fundamental e médio, voltadas a essa população jovem que é cada vez menor em números absolutos", analisou o professor. A população idosa também deverá sofrer profundas mudanças em sua distribuição etária: enquanto 17% dos idosos, de ambos os sexos, tinham 80 anos ou mais em 2000, em 2050 eles deverão corresponder a aproximadamente 28%. "Se temos oportunidades de um lado, de outro, para aproveitá-las, teremos grandes desafios. O aumento da proporção da população idosa, causado principalmente pelo declínio nas taxas de fecundidade, também demandará, no curto e médio prazos, reformas institucionais nas áreas de saúde e previdência", explicou. Para comparação, enquanto a prevalência de crianças brasileiras com até 9 anos de idade foi reduzida, entre 1970 e 2000, de 14% para 9%, os grupos mais velhos aumentaram sua participação: a população com mais de 65 anos aumentou de 3% para 5,5% no período. "A importância do maior investimento, na primeira metade do século 21, em educação entre as crianças e jovens se justifica pelo fato de essa nova geração ser a força de trabalho que suportará, no futuro, a maior dependência dos idosos", concluiu. Para ler o artigo “A transição da estrutura etária da população brasileira na primeira metade do século XXI”, disponível na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), clique aqui.
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