Psicólogo testa comportamentos relacionados à infidelidade e mitos amorosos
Agência USP de Notícias - Todos têm crenças e conselhos a dar quando o assunto é amor. A psicologia também estuda esse fenômeno comportamental e, pela primeira vez, uma pesquisa comprovou algumas teorias sobre o assunto. Uma das conclusões foi a de que quanto mais ciúme se sente em relação ao parceiro, mais chances há de este parceiro se envolver amorosamente com outra pessoa. Esse fenômeno, chamado “profecia auto-realizadora”, nunca havia sido comprovado nos relacionamentos amorosos. Os testes foram realizados para a dissertação “Ciúme romântico e infidelidade amorosa entre paulistanos: incidências e relações”, apresentada ao Instituto de Psicologia (IP) da USP pelo psicólogo especialista em relacionamentos amorosos Thiago de Almeida. No campo amoroso, a “profecia” relaciona o ciúme à infidelidade afirmando que o conjunto de crenças ciumentas que se tem a respeito do outro, quando em nível elevado, pode incentivar a outra pessoa a se engajar em comportamentos relacionados à infidelidade pois, sutilmente, essas expectativas de traição são comunicadas a ela. Homens e mulheres Foram entrevistados 45 casais heterossexuais, de várias idades, que estivessem juntos há pelo menos seis meses. Eles responderam, individualmente, a perguntas de comportamento sobre ciúmes e infidelidade e, três meses depois, responderam novamente às mesmas perguntas. Dessa forma, o psicólogo pôde estudar se o ciúme e a infidelidade haviam aumentado em cada caso, e estabelecer a relação entre eles. Os resultados apontaram também que não há diferença significativa de níveis de ciúmes entre homens e mulheres. Apesar disso, os homens têm tendência maior a trair. “Não quer dizer que traiam mais”, explica Almeida. “Eles estão apenas mais predispostos a procurar outras relações — o ser humano não é naturalmente monogâmico. Mas a cultura não incentivará esse comportamento e limitará a busca de novos parceiros.” Mitos O estudo também discutiu, com bases em literatura já publicada e nos testes realizados por Almeida, sete mitos clássicos da psicologia dos relacionamentos amorosos. O primeiro deles diz que todas as pessoas são infiéis. Porém, de acordo com estatísticas internacionais, 60% dos homens e 90% das mulheres são fiéis ao longo da vida. Uma outra crença aponta que os casos devolvem a paixão a um relacionamento monótono. Segundo o psicólogo, estudos apontam que dificilmente relacionamentos estáveis se recuperam após uma infidelidade. Quanto ao quem é infiel não ama seu parceiro, Almeida diz que a infidelidade não é necessariamente a busca por outro amor. Diversos fatores, como a busca pela “novidade”, intrínseca à natureza humana, podem contribuir para que ocorra uma traição. Em relação à crença de que a pessoa escolhida é melhor do que a pessoa traída, o psicólogo comenta que “ninguém completa plenamente o outro, portanto, é preciso conviver com a falta e desenvolvermos as características que consideramos importantes e que possivelmente estão latentes nos parceiros que escolhemos”, enfatiza. Isso significa que nem sempre se trai porque o amante é melhor, mas a própria ausência do parceiro contribui para que se realize uma nova conquista. Sobre o mito de que a culpa da infidelidade é do traído, por não satisfazer o parceiro, Almeida considera que a culpa não é de ninguém. “A ausência (física ou de apoio psicológico) do outro parceiro e a busca pela ‘novidade’ apenas potencializam a traição”, afirma. Outro mito apontado pelo pesquisador é: a melhor abordagem para a infidelidade é fingir que não se sabe de nada. Segundo Almeida, a maior dor não é ser traído, mas sim saber que o parceiro acredita que você ignore a situação. “A infidelidade não vem do sexo, mas do segredo”, explica. A última crença aponta que após a traição, é melhor acabar com a relação. De acordo com o pesquisador, assim como um relacionamento tem um contrato de fidelidade, quando ocorre a infidelidade se estabelece um novo contrato, com novos acordos. “Terminando-se a relação ou não, de qualquer maneira o evento da infidelidade será traumático. Mas estudos revelam que apenas três de cada dez pessoas traídas não perdoam o parceiro e se separam definitivamente”, informa. Mais informações: (0**11) 3097-9753, e-mail thalmeida@usp.br, com Thiago de Almeida. Dissertação orientada pelo professor Ailton Amélio da Silva.
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